terça-feira, 30 de agosto de 2011

Raiva

A raiva é um sentimento, uma sensação aterrorizante. É algo que te consome por inteiro e te cega, te faz pensar e fazer besteiras. Fora o motivo principal, há aqueles detalhes incessantes aumentando a cegueira, a dor, o tremor, os murros na parede. Parece que ninguém quer nem saber se você está prestes a se machucar sem perceber, eles só querem te ver mais brava ainda, mais louca, e mais decepcionada. E sinceramente, que a porra do amor nunca volte, que a dor e o inferno vão pra puta que o pariu, e que você, ah, pra você eu tenho o melhor lugar, aguarde e verás.
Por mais cega de raiva que eu esteja, consigo ver claramente a merda que você é, que a coisa toda não passou de uma brincadeira sem graça, e que preocupação nenhuma te atinge, porque você não vale nada, não vale o meu pesar e muito menos a porcaria do amor que insiste em me alucinar. Quer saber mais? Você e o amor podem ir embora pra sempre, e sabe o que eu vou achar disso? POUCO, muito pouco. Te desejo todas as decepções do mundo, para que assim entre nessa merda da tua cabeça algum senso comum ou alguma verdade. Você é um mentiroso de merda, e a partir de hoje eu estarei CAGANDO E ANDANDO pra você, seu merda! Eu te odeio tanto...

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Nostalgia mescla angústia e dúvida

Pouco sei sobre para onde estou indo ou por onde devo ir, ou qual caminho seguir. Minhas emoções estão confusas, numa semana sinto-me bem, livre e, de certa forma, feliz; noutra, fico numa nostalgia e anseios estranhos, o coração aperta e não sei o que ele anda querendo me dizer.
Hora ou outra me pergunto por que o amor que me tiveram não pode permanecer como nele permaneceu. Que vidinha mais ou menos, não é? Quando tudo está indo tão bem, tem que ter alguma coisa pra dizer: "o sofrimento existe. Felicidade plena? Nem sonhe. A esperança vai permanecer, mas o amor, ah, o amor vai e vem, quem sabe depois, aprenda a viver sozinha - e esperando". Ou então, quando tudo vai mal, tem o amor, risos, e contradições. Quando o fim chega, o dito respeito e consideração que juram permanecer, vai se escorrendo pelo ralo. Não resta nada, há não ser certo desprezo, indiferença e vontade inconsciente de fazer o outro sofrer. Quem mandou não ser perfeita?
"Por que você não se lembra da razão pela qual me amou antes? Por favor, lembre-se de mim uma vez mais."
Fica cada vez mais complicado discernir a verdade da mentira, o que foi real da ilusão, o que restou do que ficou. Fica difícil entender ou sequer imaginar... Mas a gente vai vendo e acaba percebendo que, na real?, foi tudo mentira, ou quase tudo...

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Trechos do livro O Pequeno Príncipe


“É tão misterioso o país das lágrimas!”

“Deveria tê-la julgado por seus atos, não pelas palavras. Ela exalava perfume e me alegrava... Não podia jamais tê-la abandonado. (...) Mas eu era jovem demais para saber amá-la.”

“Eu fui uma tola. Peço-te perdão. Procura ser feliz.”

“É claro que eu te amo. Foi minha culpa não perceberes isto. Mas não tem importância. Foste tão tolo quanto eu. Tenta ser feliz...”

“É preciso exigir de cada um o que cada um pode dar.”

“É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se consegues fazer um bom julgamento de ti, és um verdadeiro sábio.”

“Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...”

“A linguagem é uma fonte de mal-entendidos.”

“Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz! Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar meu coração...”

“Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.”

“Foi o tempo que perdeste com tua rosa que a fez tão importante.”

“Os homens esqueceram essa verdade. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.”

“A gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixou cativar...”

“O sentimento do irremediável me fez gelar de novo. E eu compreendi que não poderia suportar a ideia de nunca mais esse riso. Ele era para mim como uma fonte no deserto.”

Trechos do livro Meu pé de laranja lima


“Você será o sol, e as estrelas vão brilhar ao seu redor.”
“Vida nova e esperanças simples, simples esperanças.”
“- Fica feio se eu chorar?
- Nunca é feio chorar, bobo. Por quê?
- Não sei, ainda não me acostumei. Parece que aqui dentro a minha gaiola ficou vazia demais...”

“Você precis saber que o coração da gente tem que ser muito grande e caber tudo que a gente gosta.”

“Mas faltava qualquer coisa. Qualquer coisa importante que me fizesse voltar a ser o mesmo, talvez a acreditar nas pessoas, na bondade delas.”

“- Não faz mal, eu vou matar ele.
- Que é isso menino, matares teu pai?
- Vou, sim. Eu já até que comecei. Matar não quer dizer a gente pegar o revólver de Buck Jones e fazer bum! Não é isso. A gente mata no coração. Vai deixando de querer bem. E um a dia a pessoa morre.”

“Meus olhos ficaram covardemente cheio de lágrimas.
- Mas tu deves admitir que às vezes a gente também possa sonhar.
- É que você não me botou no seu sonho.”

“Agora sabia mesmo o que era a dor. Dor não era apanhar de desmaiar. Não era cortar o pé com caco de vidro e levar pontos na farmácia. Dor era aquilo, que doía o coração todinho, que a gente tinha que morrer com ela, sem poder contar para ninguém o segredo. Dor que dava desânimo nos braços, na cabeça, até na vontade de virar a cabeça no travesseiro.”

“Às vezes sou feliz na minha ternura, às vezes me engano, o que  é mais comum.”

“A verdade (...) é que a mim contaram as coisas muito cedo.”

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Depoimento de um coração confuso


A felicidade é dividida em duas partes: o “estar” feliz e o “ser” feliz. Estar é coisa passageira, momentos que vão e passam, sem pedir licença. Ser permanece, se instala, pede por favor, agradece e fica, promete amor, carinho e cuidado, sozinho, só precisa ser você. Estar é coisa de quem não sabe nada, ser é coisa de quem  não sabe nada, mas também não tem nada. Ser é a certeza de ser e de não precisar de nada em troca, estar é reciprocidade. Dramático no final, no não-estar, quando vai embora. Ser é ser sem se importar, sem pensar, sem querer, só sendo. Estar é ter e querer mais e quando não tem,  passa. Estar é a curto prazo, se tem rápido e vai embora mais rápido ainda, como quem vê um fantasma. Ser é a longo prazo num prazo tão longo que não se é prazo, é eterno. Há muito tempo eu não sou, eu estou, fico entre o estar e o não-estar. Hoje eu estou feliz, mas não sou.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Reconstruindo


Questões, (...) perguntas, dúvidas. São tantos, tantos vazios sem respostas que eu poderia deixar de viver, que o passarinho que canta poderia perder o afinado, o sol poderia virar lua, que o preto não desbotasse o branco, que... que mesmo assim o espaço debaixo da questão continuaria em branco. Conjunto vazio.
O sol bateu com um estrondo, impaciente, como se tivesse esperado muito tempo, mas isso não significava que ele sempre fora assim. Ele me esperou, esperou por dias incontáveis, dias que não quis viver. Durante esses dias, eu sei, eu tenho certeza... E que certeza é essa? De onde vem tanta convicção, tanta segurança no que diz, diz em palavras mudas, diz só pra si. Não sei, mas quis acreditar nessa falsa certeza, quis acreditar nesse talvez antes que perca a fé em tudo. Me convenci. Eu sabia que o sol tinha batido, insistido, lutado e grudado em minha janela como quem encosta o ouvido eriçado de curiosidade, a vontade de saber, decifrar, escutar o som que rola depois da porta.
Será que ele pensou que dessa eu não escaparia? Que me perderia na escuridão que dominava toda a extensão das minhas pálpebras fechadas, sem nenhum vestígio de imagem, de cor? Não. Tinha cor, a única cor, a cor do desespero, da beira do fio entre a lucidez e a loucura.
(...) Continuei parada na cama agitada pelos cobertores, lenços e papéis, rabiscos. Talvez fossem até cartas, cartas sem destinatário, sem rumo. Ou não. Ou mais, poderiam ser ditas. Ditos meus escritos involuntariamente inconscientes, apenas jogados, jorrando e deixando junto com o rio salgado que desaguava sobre a pele alva da folha, que absorvia gentilmente como um ombro, sendo amigo ou não, apenas um ombro, confortável, acolhedor, que aceitou receber as lágrimas pacientemente, sem se importar com a blusa molhada por causa dos soluços, sem se importar de usar a mão. (...) É preciso (...) que se disponha a afagar suas costas, passar a mão sobre seu rosto, te oferecer um lenço.
Me recusei a tentar decifrar as sílabas, juntá-las, uma por uma até que a  palavra seja absorvida. Que irônico, se me recuso a tamanho esforço, apenas juntar fragmentos de uma palavra qualquer, como posso eu juntar meus próprios cacos? A pergunta veio como uma bomba, uma bomba que estava programada, mas não com aqueles números pintados de sangue gritando, correndo em ordem decrescente até chegar ao último segundo antes do caos. A bomba seguia ao contrário, porém a cor de sangue parecia mais viva, intensa, que seguia contando desde os segundos até as horas, talvez já marcassem os dias que se passaram, que eu odiava e penso que poderia ter prolongado mais. Foi inevitável, imprevisível. A bomba explodiu. Acidentalmente apertei o botão vermelho, cortei o cabo errado. O efeito da explosão foi imediato, e tudo o que havia dentro de mim sentiu todo o impacto. Foi como um ataque de guerra com um único objetivo traçado, executado. Destruição, desespero. As faíscas se espalharam, a poeira e tudo que há de mal ainda estava de pé, subiu e desceu.
(...) Se antes, dentro de mim só existia uma pequena e única luz em meio a tamanho breu, agora... agora não existe mais nada, nada além de um espaço como a máscara do desespero, uma cena trágica que despertaria água no meio do sertão, lágimas em olhos desidratados, quentura numa pedra de gelo em volta do coração. (...) Que coração? O choro doía, doía a cada lágrima que saía, uma seguida da outra, e os olhos inchados clamavam para que estancassem aquele sangramento. A vontade de vomitar veio. Me curvei, suei, senti a barriga se contorcer e jogar o que tinha para fora. Nada. Não tinha nada desde muito tempo. Desde muito tempo soube muito pouco e do nada, nada resta, vai muito além da linha do vazio.
Tontura e dor. (...) Gostaria agora de um porre, o pior que tivesse, queria jogar álcool aqui dentro e incendiar os entulhos, os destroços. Não quero mais restos, não quero construir algo em cima de merda, de um terreno esburacado, pois de buracos já basta o meu.
(...) A legião de mães devem estar procurando seus brotinhos, seus frutos, seus guris que ainda nada sabem dessa vida, para tomar banho, tirar a lama, passar remédio em seus joelhos e mãos raladas, acariciá-los e depois pôr na mesa de toalha florida, suas guloseimas pra repor as energias e pinotar pintando o pôr-do-sol. Senti inveja. Ninguém me daria um banho, tiraria meu suor, me ofereceria um café preto e forte. (...) Ninguém se disponibilizaria de boa vontade e colocaria remédio e assopraria para não arder e que fosse me falar: "Calma, já já fica melhor, cura". Ninguém limparia minhas feridas ou faria um curativo. Mas eu não podia deixar o sangue grudar e secar em cima, não posso deixar a ferida aberta. (...) Eu mesma farei tudo isso, e em seguida dormirei em panos limpos que cheirem a luz, ao nascer do sol. Cairei para que me levante. Deu-se início a reconstrução.

Maressa Fauzia

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Tenho amigos que são tristemente alegres. Eles não conseguiram anular uma tristeza. Ela ficou a endividar o riso. Permanece como uma cicatriz, uma queimadura. Não apaga a água ou as alegrias. Convive junto, sempre. Não arreda pé da sala. Não permite ao rosto se contorcer de exultação. O riso é uma vez por lado, contido, como remos sincronizados. Como se o riso fosse apenas um entristecer dos dentes. Há amigos que pensam nessa tristeza fazendo novas coisas. E a tristeza pensa neles nas horas mais impróprias. Não há como aplacar esse sentimento - ao mesmo tempo - miúdo para ser reparado e extraviado para ser dito. Não é benigno ou maligno. Não é doença, muito menos saúde. É algo que se aprendeu quando não se prestava atenção. Uma tristeza assobiada, sem que conheça o alfabeto para se confessar. Uma tristeza suave, como uma criança que senta diante da máquina de lavar com os mesmos modos de uma televisão. Uma tristeza sem lugar para ir, que se acostumou a personalidade, que seca a louça de manhã. Uma tristeza que é charme, mas não chega a ser simpatia, que convida para a conversa, mas não tem o que falar. Uma tristeza calma, alimentada, que se contenta com pouco, que senta nos degraus da escada e divide os latidos da quadra em casas. Uma tristeza quase subterrânea, um rádio ligado entre duas estações. Não se mistura, não se guarda. Podia ser nostalgia, podia ser saudade, nada é de ambas por não se distanciar. Uma tristeza que arruma a cama e não se deita, envelopa as cartas e não escreve. Uma tristeza que é tremor de frio, um suor desajeitado, uma fisgada no braço, que movimenta os ouvidos involuntariamente. Uma tristeza tímida, não envergonhada. Uma tristeza sábia, que não é excluída com uma outra tristeza maior. Uma fogueira que a pá de terra não abaixa. Uma tristeza que veio de algum estalo, fissura, de um amor sacrificado, de uma amizade desmentida, de uma morte prematura, de uma viagem adiada. Medo de não ter vivido o bastante, covardia de não viver como se deve. Uma tristeza experiente, que não se repete. Que não salva, porém conforta. Que torna a feição séria como quem se escuta. Uma tristeza sem par para dançar. Isolada demais para ser lembrança. Antiga demais para ser futuro. Uma tristeza que acontece alegremente, mas ainda assim tristeza.

Fabrício Carpinejar