terça-feira, 30 de agosto de 2011

Raiva

A raiva é um sentimento, uma sensação aterrorizante. É algo que te consome por inteiro e te cega, te faz pensar e fazer besteiras. Fora o motivo principal, há aqueles detalhes incessantes aumentando a cegueira, a dor, o tremor, os murros na parede. Parece que ninguém quer nem saber se você está prestes a se machucar sem perceber, eles só querem te ver mais brava ainda, mais louca, e mais decepcionada. E sinceramente, que a porra do amor nunca volte, que a dor e o inferno vão pra puta que o pariu, e que você, ah, pra você eu tenho o melhor lugar, aguarde e verás.
Por mais cega de raiva que eu esteja, consigo ver claramente a merda que você é, que a coisa toda não passou de uma brincadeira sem graça, e que preocupação nenhuma te atinge, porque você não vale nada, não vale o meu pesar e muito menos a porcaria do amor que insiste em me alucinar. Quer saber mais? Você e o amor podem ir embora pra sempre, e sabe o que eu vou achar disso? POUCO, muito pouco. Te desejo todas as decepções do mundo, para que assim entre nessa merda da tua cabeça algum senso comum ou alguma verdade. Você é um mentiroso de merda, e a partir de hoje eu estarei CAGANDO E ANDANDO pra você, seu merda! Eu te odeio tanto...

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Nostalgia mescla angústia e dúvida

Pouco sei sobre para onde estou indo ou por onde devo ir, ou qual caminho seguir. Minhas emoções estão confusas, numa semana sinto-me bem, livre e, de certa forma, feliz; noutra, fico numa nostalgia e anseios estranhos, o coração aperta e não sei o que ele anda querendo me dizer.
Hora ou outra me pergunto por que o amor que me tiveram não pode permanecer como nele permaneceu. Que vidinha mais ou menos, não é? Quando tudo está indo tão bem, tem que ter alguma coisa pra dizer: "o sofrimento existe. Felicidade plena? Nem sonhe. A esperança vai permanecer, mas o amor, ah, o amor vai e vem, quem sabe depois, aprenda a viver sozinha - e esperando". Ou então, quando tudo vai mal, tem o amor, risos, e contradições. Quando o fim chega, o dito respeito e consideração que juram permanecer, vai se escorrendo pelo ralo. Não resta nada, há não ser certo desprezo, indiferença e vontade inconsciente de fazer o outro sofrer. Quem mandou não ser perfeita?
"Por que você não se lembra da razão pela qual me amou antes? Por favor, lembre-se de mim uma vez mais."
Fica cada vez mais complicado discernir a verdade da mentira, o que foi real da ilusão, o que restou do que ficou. Fica difícil entender ou sequer imaginar... Mas a gente vai vendo e acaba percebendo que, na real?, foi tudo mentira, ou quase tudo...

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Trechos do livro O Pequeno Príncipe


“É tão misterioso o país das lágrimas!”

“Deveria tê-la julgado por seus atos, não pelas palavras. Ela exalava perfume e me alegrava... Não podia jamais tê-la abandonado. (...) Mas eu era jovem demais para saber amá-la.”

“Eu fui uma tola. Peço-te perdão. Procura ser feliz.”

“É claro que eu te amo. Foi minha culpa não perceberes isto. Mas não tem importância. Foste tão tolo quanto eu. Tenta ser feliz...”

“É preciso exigir de cada um o que cada um pode dar.”

“É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se consegues fazer um bom julgamento de ti, és um verdadeiro sábio.”

“Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...”

“A linguagem é uma fonte de mal-entendidos.”

“Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz! Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar meu coração...”

“Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.”

“Foi o tempo que perdeste com tua rosa que a fez tão importante.”

“Os homens esqueceram essa verdade. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.”

“A gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixou cativar...”

“O sentimento do irremediável me fez gelar de novo. E eu compreendi que não poderia suportar a ideia de nunca mais esse riso. Ele era para mim como uma fonte no deserto.”

Trechos do livro Meu pé de laranja lima


“Você será o sol, e as estrelas vão brilhar ao seu redor.”
“Vida nova e esperanças simples, simples esperanças.”
“- Fica feio se eu chorar?
- Nunca é feio chorar, bobo. Por quê?
- Não sei, ainda não me acostumei. Parece que aqui dentro a minha gaiola ficou vazia demais...”

“Você precis saber que o coração da gente tem que ser muito grande e caber tudo que a gente gosta.”

“Mas faltava qualquer coisa. Qualquer coisa importante que me fizesse voltar a ser o mesmo, talvez a acreditar nas pessoas, na bondade delas.”

“- Não faz mal, eu vou matar ele.
- Que é isso menino, matares teu pai?
- Vou, sim. Eu já até que comecei. Matar não quer dizer a gente pegar o revólver de Buck Jones e fazer bum! Não é isso. A gente mata no coração. Vai deixando de querer bem. E um a dia a pessoa morre.”

“Meus olhos ficaram covardemente cheio de lágrimas.
- Mas tu deves admitir que às vezes a gente também possa sonhar.
- É que você não me botou no seu sonho.”

“Agora sabia mesmo o que era a dor. Dor não era apanhar de desmaiar. Não era cortar o pé com caco de vidro e levar pontos na farmácia. Dor era aquilo, que doía o coração todinho, que a gente tinha que morrer com ela, sem poder contar para ninguém o segredo. Dor que dava desânimo nos braços, na cabeça, até na vontade de virar a cabeça no travesseiro.”

“Às vezes sou feliz na minha ternura, às vezes me engano, o que  é mais comum.”

“A verdade (...) é que a mim contaram as coisas muito cedo.”

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Depoimento de um coração confuso


A felicidade é dividida em duas partes: o “estar” feliz e o “ser” feliz. Estar é coisa passageira, momentos que vão e passam, sem pedir licença. Ser permanece, se instala, pede por favor, agradece e fica, promete amor, carinho e cuidado, sozinho, só precisa ser você. Estar é coisa de quem não sabe nada, ser é coisa de quem  não sabe nada, mas também não tem nada. Ser é a certeza de ser e de não precisar de nada em troca, estar é reciprocidade. Dramático no final, no não-estar, quando vai embora. Ser é ser sem se importar, sem pensar, sem querer, só sendo. Estar é ter e querer mais e quando não tem,  passa. Estar é a curto prazo, se tem rápido e vai embora mais rápido ainda, como quem vê um fantasma. Ser é a longo prazo num prazo tão longo que não se é prazo, é eterno. Há muito tempo eu não sou, eu estou, fico entre o estar e o não-estar. Hoje eu estou feliz, mas não sou.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Reconstruindo


Questões, (...) perguntas, dúvidas. São tantos, tantos vazios sem respostas que eu poderia deixar de viver, que o passarinho que canta poderia perder o afinado, o sol poderia virar lua, que o preto não desbotasse o branco, que... que mesmo assim o espaço debaixo da questão continuaria em branco. Conjunto vazio.
O sol bateu com um estrondo, impaciente, como se tivesse esperado muito tempo, mas isso não significava que ele sempre fora assim. Ele me esperou, esperou por dias incontáveis, dias que não quis viver. Durante esses dias, eu sei, eu tenho certeza... E que certeza é essa? De onde vem tanta convicção, tanta segurança no que diz, diz em palavras mudas, diz só pra si. Não sei, mas quis acreditar nessa falsa certeza, quis acreditar nesse talvez antes que perca a fé em tudo. Me convenci. Eu sabia que o sol tinha batido, insistido, lutado e grudado em minha janela como quem encosta o ouvido eriçado de curiosidade, a vontade de saber, decifrar, escutar o som que rola depois da porta.
Será que ele pensou que dessa eu não escaparia? Que me perderia na escuridão que dominava toda a extensão das minhas pálpebras fechadas, sem nenhum vestígio de imagem, de cor? Não. Tinha cor, a única cor, a cor do desespero, da beira do fio entre a lucidez e a loucura.
(...) Continuei parada na cama agitada pelos cobertores, lenços e papéis, rabiscos. Talvez fossem até cartas, cartas sem destinatário, sem rumo. Ou não. Ou mais, poderiam ser ditas. Ditos meus escritos involuntariamente inconscientes, apenas jogados, jorrando e deixando junto com o rio salgado que desaguava sobre a pele alva da folha, que absorvia gentilmente como um ombro, sendo amigo ou não, apenas um ombro, confortável, acolhedor, que aceitou receber as lágrimas pacientemente, sem se importar com a blusa molhada por causa dos soluços, sem se importar de usar a mão. (...) É preciso (...) que se disponha a afagar suas costas, passar a mão sobre seu rosto, te oferecer um lenço.
Me recusei a tentar decifrar as sílabas, juntá-las, uma por uma até que a  palavra seja absorvida. Que irônico, se me recuso a tamanho esforço, apenas juntar fragmentos de uma palavra qualquer, como posso eu juntar meus próprios cacos? A pergunta veio como uma bomba, uma bomba que estava programada, mas não com aqueles números pintados de sangue gritando, correndo em ordem decrescente até chegar ao último segundo antes do caos. A bomba seguia ao contrário, porém a cor de sangue parecia mais viva, intensa, que seguia contando desde os segundos até as horas, talvez já marcassem os dias que se passaram, que eu odiava e penso que poderia ter prolongado mais. Foi inevitável, imprevisível. A bomba explodiu. Acidentalmente apertei o botão vermelho, cortei o cabo errado. O efeito da explosão foi imediato, e tudo o que havia dentro de mim sentiu todo o impacto. Foi como um ataque de guerra com um único objetivo traçado, executado. Destruição, desespero. As faíscas se espalharam, a poeira e tudo que há de mal ainda estava de pé, subiu e desceu.
(...) Se antes, dentro de mim só existia uma pequena e única luz em meio a tamanho breu, agora... agora não existe mais nada, nada além de um espaço como a máscara do desespero, uma cena trágica que despertaria água no meio do sertão, lágimas em olhos desidratados, quentura numa pedra de gelo em volta do coração. (...) Que coração? O choro doía, doía a cada lágrima que saía, uma seguida da outra, e os olhos inchados clamavam para que estancassem aquele sangramento. A vontade de vomitar veio. Me curvei, suei, senti a barriga se contorcer e jogar o que tinha para fora. Nada. Não tinha nada desde muito tempo. Desde muito tempo soube muito pouco e do nada, nada resta, vai muito além da linha do vazio.
Tontura e dor. (...) Gostaria agora de um porre, o pior que tivesse, queria jogar álcool aqui dentro e incendiar os entulhos, os destroços. Não quero mais restos, não quero construir algo em cima de merda, de um terreno esburacado, pois de buracos já basta o meu.
(...) A legião de mães devem estar procurando seus brotinhos, seus frutos, seus guris que ainda nada sabem dessa vida, para tomar banho, tirar a lama, passar remédio em seus joelhos e mãos raladas, acariciá-los e depois pôr na mesa de toalha florida, suas guloseimas pra repor as energias e pinotar pintando o pôr-do-sol. Senti inveja. Ninguém me daria um banho, tiraria meu suor, me ofereceria um café preto e forte. (...) Ninguém se disponibilizaria de boa vontade e colocaria remédio e assopraria para não arder e que fosse me falar: "Calma, já já fica melhor, cura". Ninguém limparia minhas feridas ou faria um curativo. Mas eu não podia deixar o sangue grudar e secar em cima, não posso deixar a ferida aberta. (...) Eu mesma farei tudo isso, e em seguida dormirei em panos limpos que cheirem a luz, ao nascer do sol. Cairei para que me levante. Deu-se início a reconstrução.

Maressa Fauzia

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Tenho amigos que são tristemente alegres. Eles não conseguiram anular uma tristeza. Ela ficou a endividar o riso. Permanece como uma cicatriz, uma queimadura. Não apaga a água ou as alegrias. Convive junto, sempre. Não arreda pé da sala. Não permite ao rosto se contorcer de exultação. O riso é uma vez por lado, contido, como remos sincronizados. Como se o riso fosse apenas um entristecer dos dentes. Há amigos que pensam nessa tristeza fazendo novas coisas. E a tristeza pensa neles nas horas mais impróprias. Não há como aplacar esse sentimento - ao mesmo tempo - miúdo para ser reparado e extraviado para ser dito. Não é benigno ou maligno. Não é doença, muito menos saúde. É algo que se aprendeu quando não se prestava atenção. Uma tristeza assobiada, sem que conheça o alfabeto para se confessar. Uma tristeza suave, como uma criança que senta diante da máquina de lavar com os mesmos modos de uma televisão. Uma tristeza sem lugar para ir, que se acostumou a personalidade, que seca a louça de manhã. Uma tristeza que é charme, mas não chega a ser simpatia, que convida para a conversa, mas não tem o que falar. Uma tristeza calma, alimentada, que se contenta com pouco, que senta nos degraus da escada e divide os latidos da quadra em casas. Uma tristeza quase subterrânea, um rádio ligado entre duas estações. Não se mistura, não se guarda. Podia ser nostalgia, podia ser saudade, nada é de ambas por não se distanciar. Uma tristeza que arruma a cama e não se deita, envelopa as cartas e não escreve. Uma tristeza que é tremor de frio, um suor desajeitado, uma fisgada no braço, que movimenta os ouvidos involuntariamente. Uma tristeza tímida, não envergonhada. Uma tristeza sábia, que não é excluída com uma outra tristeza maior. Uma fogueira que a pá de terra não abaixa. Uma tristeza que veio de algum estalo, fissura, de um amor sacrificado, de uma amizade desmentida, de uma morte prematura, de uma viagem adiada. Medo de não ter vivido o bastante, covardia de não viver como se deve. Uma tristeza experiente, que não se repete. Que não salva, porém conforta. Que torna a feição séria como quem se escuta. Uma tristeza sem par para dançar. Isolada demais para ser lembrança. Antiga demais para ser futuro. Uma tristeza que acontece alegremente, mas ainda assim tristeza.

Fabrício Carpinejar

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Constatação


Agora é se contentar com a realidade e viver para mim, não para ele. A situação a que me encontro daqui a pouco irá passar, só não posso ficar pulando etapas e fingindo que não estou sofrendo. Estou sim. Ainda tenho muito o que chorar, depois é só enxugar as lágrimas, andar mais alguns passos, e se for pra chorar de novo, tudo bem, vai chegar um dia que não vai ter mais importância. Agora se eu ficar guardando tudo dentro de mim, me fazendo acreditar numa realidade que não existe, só vai ser pior, porque são sorrisos falsos agora, e lágrimas torrenciais depois.
Chega um momento que a gente tem que aprender, não adianta só fugir. E tenho que expor toda a trajetória, deixar tudo bem claro e continuar seguindo, se ele preferir do jeito que está, o problema é dele - em parcela meu também, mas será o momento em que eu terei de deixar de agir pensando nele. Não adianta viver em função dele, se tiver de voltar, ele volta, não sou eu que vou forçá-lo a isso. Viverei a minha vida do meu jeito e do jeito que eu quero, isso está em primeiro lugar, ele vem depois. Sem mais nem menos.
Quando eu estou sem nada pra fazer, fico escutando aquelas músicas, vendo aqueles textos, as fotos... mas não choro, o que é incrível de certa forma, não vejo mais necessidade. Ou então procuro assistir alguma coisa que me distraia, um livro esquecido num canto... Mantenho a mente ocupada, mas eu tenho que me deixar sentir também, senão até quando eu vou ficar escondendo o que eu sinto? Até quando eu não vou me permitir pensar? Na verdade, não sei ao certo como estou, como me encontro. Só que vontade de chorar não tenho, e ficar com alguém me parece algo de outro mundo. E se me perguntarem se estou sofrendo, direi que sim, mas eu saberei que depois passará, é só por a maquiagem, pegar o salto e sair, ir se divertir; e se em algum momento pensar de novo e quiser chorar, chorarei, mas seguirei adiante.
Eu já estabeleci o meu limite perante ele. Há um círculo ao seu redor que eu não posso ultrapassar. Não estou afim de me desgastar com alguém que pouco demonstra depois de tanto ter demonstrado. Não sei mais de nada. Só me resta aquele famoso clichê de dar tempo ao tempo. E curtir o meu luto, porque o luto não é só quando alguém morre, mas quando a gente perde algo. Mais ou menos assim.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Não

Não adianta se preocupar. Nada do que você faça será suficiente. Às vezes, o melhor mesmo é desistir. Ei esperança, me esquece! Por mais dócil que você seja, indiferente, ou seja lá o que for, não será suficiente. E adianta mesmo continuar pensando? Adianta sequer olhar nos olhos, por mais lindos que sejam? Adianta esperar que as brincadeirinhas e os olhares rápidos valham alguma coisa, quando o que só se escuta depois são patadas e maior indiferença? Nem um "ei, obrigado, to bem sozinho"? Ou então "me deixa em paz"? Ou "nada do que você falar ou fizer fará diferença alguma"? Não, mané, você não passa de uma qualquer que já passou, nem colega, nem amiga, nem porra nenhuma você é ou será. Cai na real. Acabou.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Dr. House

- Eu era arquiteta.
- Abandonou arquitetura após conseguir enxergar?
- O mundo era feio. Acha que o mundo seria diferente se sua perna fosse boa?
- Não.
- Acha que você seria diferente se sua perna fosse boa? Os médicos me disseram que minha vida seria bem melhor quando eu enxergasse. Eu ia ter encontros, dançaria, mas os caras com quem eu odiava dançar antes continuei odiando depois. Meus pais continuaram mortos, e ainda estou sozinha.
- Você é divertida.
- Você não parece tão diferente.
- Ainda não desisti.

[...]

- Há duas coisas que você ignora: as que não são importantes, e as que você deseja que não fossem importantes.
Eu quase consegui abraçar alguém semana passada. Por um milésimo de segundo eu fechei os olhos e senti meu peito esvaziado de você. Foi realmente quase. Acho que estou andando pra frente. Ontem ri tanto no jantar, tanto que quase fui feliz de novo. Ouvi uma história muito engraçada sobre uma diretora de criação maluca que fez os funcionários irem trabalhar de pijama. Mas aí lembrei, no meio da minha gargalhada, como eu queria contar essa história para você. E fiquei triste de novo. Hoje uma pessoa disse que está apaixonada por mim. Quem diria? Alguém gosta de mim. E o mais louco de tudo nem é isso. O mais louco de tudo é que eu também acho que gosto dele. Quase consigo me animar com essa história, mas me animar ou gostar de alguém me lembra você. E fico triste novamente. Eu achei que quando passasse o tempo, eu achei que quando eu finalmente te visse tão livre, tão forte e tão indiferente, eu achei que quando eu sentisse o fim, eu achei que passaria. Não passa nunca, mas quase passa todos os dias. Chorar deixou de ser uma necessidade e virou apenas uma iminência. Sofrer deixou de ser algo maior do que eu e passou a ser um pontinho ali, no mesmo lugar, incomodando a cada segundo, me lembrando o tempo todo que aquele pontinho é um resto, um quase não pontinho. Você, que já foi tudo e mais um pouco, é agora um quase. Um quase que não me deixa ser inteira em nada, plena em nada, tranqüila em nada, feliz em nada. Todos os dias eu quase te ligo, eu quase consigo ser leve e te dizer: “Ei, não quer conhecer minha casa nova?” Eu quase consigo te tratar como nada. Mas aí quase desisto de tudo, quase ignoro tudo, quase consigo, sem nenhuma ansiedade, terminar o dia tendo a certeza de que é só mais um dia com um restinho de quase e que um restinho de quase, uma hora, se Deus quiser, vira nada. Mas não vira nada nunca. Eu quase consegui te amar exatamente como você era, quase. E é justamente por eu nunca ter sido inteira pra você que meu fim de amor também não consegue ser inteiro. Eu quase não te amo mais, eu quase não te odeio, eu quase não odeio aquela foto com aquelas garotas, eu quase não morro com a sua presença, eu quase não escrevo esse texto. O problema é que todo o resto de mim que sobra, tirando o que quase sou, não sei quem é.


Tati Bernardi

domingo, 14 de agosto de 2011

Deus

Então, Deus, o que é isso que está acontecendo? Eu sou algum experimento a longo prazo? Eu valho alguma coisa mais do que isso ou sou um fantoche brincando de se esconder? Eu sei que o difícil pra mim é besteira para meio mundo de gente que possui realmente problemas. Mas cada um tem a sua força para lidar com tudo, ou cada um tem uma vida de acordo com o que pode suportar. Só que está extrapolando os meus limites, está indo muito mais além do que eu sequer imaginei que poderia acontecer. Meu braço daqui a pouco vai estar dilacerado com tantas tesouradas, e a dor interna e externa vai estar crescendo cada vez mais, é isso que o Senhor quer de mim? Ou quer que eu siga adiante contra os meus princípios e índole? Quer que eu invente, dissimule, minta, finja? Eu não consigo. Eu não posso sentir o que eu não sinto e muito menos demonstrar isso. Então pra quê viver, querido Deus? Pra quê? Tem algum motivo aqui, nesse trilho mal-feito onde o trem nem sequer passa ou passa demais que está despedaçando tudo? Tento manter o pensamento positivo, eu tento, mas ultimamente anda tão difícil, sabe. O destino, acaso ou o Senhor me tirou as coisas e pessoas que faziam essa chama continuar acesa. Então, meu Deus? O que é que Você tem pra mim aí? O Paraíso está melhor do que a Terra? Eu devo continuar tentando lutar ou será que já devo ir ao Teu encontro? Me dá um sinal, joga algo aí de cima e diz: "aguenta que tu é forte". Não sou forte, não, já deveria era estar muito bem acostumada. E só pra provar a afirmação errada, eu não estou acostumada, consequentemente eu não estou/sou forte o suficiente para o que Você quer me mostrar. Tá difícil, meu Deus, tá difícil.

Trechos do livro Quem me dera ser feliz, parte II


“Não precisava de alguém que o fizesse se sentir pior do que estava se sentindo.
É, era nessas horas que precisava ser super.
Supermulher.
Supermãe.
Supercompanheira.
Superpaciente.
Super-resignada.
Superprotetora.
Superindulgente.
Supertudo.
O difícil era encontrar alguém que fosse super para ela.”

“É duro ser super-qualquer-coisa! Solidão...”

“A decepção foi maior do que a raiva. A falta de sorte – superstição ou não, recusava-se a sequer mencionar a palavra ‘azar’ – parecia ter voltado. Repetia-se. Já era a terceira vez.”

“Dor é o sabor de um encanto desfeito.”

“Quem é que não acredita e se decepciona pelo menos uma vez na vida?”

“Não me importa o que os outros estão fazendo ou deixando de fazer. Importa o que eu estiver fazendo. A gente não pode deixar de acreditar nas pessoas.”

“Ficava pelos cantos, amuado, presa fácil de uma melancolia estranha e frustrante.”

“Aquela seria uma batalha realmente solitária, a maior de tantas que enfrentara ultimamente.”

“Volta e meia, surpreendia-se inseguro na frente dele, pensando em dizer certas coisas e dizendo outras inteiramente diferentes. Medo.”

“... deve ser muito difícil errar diante de tantas pessoas que vivem achando que você é invencível, que nunca erra, que não te dão o direito de errar.”

Um pedido de ajuda, a necessidade quase infantil de um pouco de carinho, uma vontade doida de novamente encontrar uma maneira de se entender com alguém que amava demais.

“Lágrimas nos olhos, alívio no coração.”

“Precisava acusar, culpar, condenar alguém pelo que estava acontecendo. Precisava tirar parte daquele peso e daquela culpa de seus ombros para não enlouquecer.”

“Não procurava nada em especial. Nem o sol que despontava no horizonte de concreto da cidade sonolenta. Sentou-se como quem não tem pressa para mais nada na vida, como alguém para quem a vida não vale um instante de preocupação.”

“Apenas andar. Não pensar. Apenas andar. Não discutir. Não falar. Apenas andar. Não lembrar. Apenas andar. Andar e esquecer...”

“... chega uma hora que a gente cansa de só apanhar da vida, a gente pensa em desistir.”

“É a realidade. E é embaraçoso, envergonha, chateia, deixa todo mundo com os nervos à flor da pele, cansa... Eu sei de tudo isso. E daí? A gente vai correr? Buscar um buraco bem grande e enfiar a cabeça lá dentro?”

“O maior problema não é morrer. O meu maior problema é viver. Eu só quero isso.”

Trechos do livro Quem me dera ser feliz, parte I

“Parecia um filme muito antigo e muitas vezes visto, que se repete e se repete diante dos olhos. Monótono. Aborrecido. Desanimador. Um filme triste.”

“Outra triste constatação. Viver num lugar onde as ruínas se tornam ruínas mesmo inacabadas, e com cara de coisa nova, era algo estranho. Não, estranho não. Perturbador.
                ‘Parece que estamos sempre recomeçando...’”

“Era o que todos à sua volta estavam fazendo, lobos esfomeados perseguindo um único pedaço de sobrevivência – que quase sempre acabava rimando com insatisfação e subserviência.”

“Muitas vezes, na falta de coisa melhor para fazer, em que pensar, queria apenas correr, correr para bem longe.”

“Sentiu fome. Sentiu sede. Mas, antes de qualquer outra coisa, um aperto insuportável no coração. É a expectativa que tira a confiança. É a ansiedade que destrói a razão.”

“Pensou em muitas coisas. Contrariedade. Aborrecimento. Chateação. Mau humor. Desistiu no instante seguinte. Perda de tempo... acabaria inevitavelmente se repetindo, dizendo coisas que certamente já deveria ter dito.”

“Nunca pensou que experimentaria tão intensamente sensação tão opressiva e desagradável.”

“Acabava sempre revoltando-se. Era melhor do que simplesmente desistir ou enlouquecer. Na verdade, desistir era enlouquecer.”

“... palavras roçando seus lábios, mas perdendo-se num medo crescente, amordaçadas, despedaçadas, perdidas, terminando por jamais serem ditas. Seria perda de tempo. Mais do que isso, acabariam sendo mais uma vez desculpas, explicações, argumentações, alegações infundadas, esperanças sem valor,  palavras em que ele mesmo não acreditava.”

“Passava horas procurando algum pretexto para extravasar, para discutir com ela e pôr tudo aquilo que sentia,  aquele rancor crescente mas absurdo, para fora.”

“Sempre que retornava, encontrava-se pior do que quando saíra, esperanças redobradas na ida, esperanças destruídas na volta."

“A vergonha machuca. A impotência revolta. A incerteza dói e destrói sem piedade.”

“É duro ser super-qualquer-coisa. Você não pode sentir dor mesmo quando tem as dores do mundo sobre os ombros. Não tem direito ao próprio sorriso, pois a alegria dos outros, os sorrisos dos outros, sempre são mais importantes. Não lhe resta tempo para chorar, pois o choro de tantos se seguirá ao seu. Você não tem vida própria, mas dá-se em tempo integral para que a vida não desapareça daqueles mundos e daqueles rostos que gravitam em torno de você. Você, que tantas vezes é luz, vive nas sombras de uma insatisfação interminável. Morre aos poucos, querendo viver.”

“Compreendia – ninguém cai tantas vezes sem começar a pensar que é incapaz de andar... -, mas não aceitava. Sentia-se traída.”

“Enfrentando desaforos de meio mundo, e ele pensava em fugir, largar tudo, desistir...”

Metade

Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio.

Que a música que eu ouço ao longe seja linda, ainda que triste.
Que a mulher que eu amo seja sempre amada, mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida e a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimento.
Porque metade de mim é o que eu ouço, mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço.
Que essa tensão que me corroe por dentro seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é o que eu penso e a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto o doce sorriso que eu me lembro de ter dado na infância.
Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei...

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito.
E que o teu silêncio me fale cada vez mais.
Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba.
E que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.
Porque metade de mim é a platéia e a outra metade, a canção.

E que minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é amor e a outra metade... também.

Oswaldo Montenegro

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Vulnerabilidade

Penso em qualquer outra coisa ou não penso. Escuto as pessoas falando comigo: "eu vi teu namorado no show"; "falei com teu namorado um dia desses"... namorado, seu namorado, meu... Quem? Meu Deus, quem é esse meu namorado? Existe, ainda existe? Ou morreu com o ato de ir embora? Ou viverá ainda por aí, por aqui? E aquela tristeza no olhar, um risinho, e a explicação: "Nós terminamos". O constrangimento, e a saída: "Sério? Que triste". E cada um pra o seu lado. Mas o clima perdura, aquela tensidade pairando pelo ar.
Incrível é como o celular toca na hora certa, ou melhor, como as mensagens chegam quando se mais precisa, na realidade nos deixa um pouco mais forte e três vezes mais suscetível a fortes emoções. É como você tirando uma peça de roupa por vez, a cada uma jogada no chão, você fica mais nu, se sente mais vulnerável, exposto, um monstro, e pensa: "não posso tomar banho, não posso me dar ao luxo de tirar as roupas e entrar debaixo d'água sem me sentir mais fraca".

Trechos do livro Loucura Necessária - parte II

“- Autopreservação. Quando você está se afogando, você se agarra a qualquer coisa. Porque é necessário. Porque não tem escolha.
- Mesmo se é loucura? Mesmo se esse esforço para sobreviver fizer com que você perca seu ponto de apoio?
- Mesmo assim.”

“Excesso de tristeza, risos. Excesso de alegria, lágrimas.”

“A solidão cria maus hábitos.”

“- [...] Acho que sou uma pessoa solitária.
- Por escolha?
- Acho que não. Apesar de eu mesma tornar minha solidão pior do que ela é.
- Não há nada de errado com a solidão. Até você encontrar aquela pessoa, a que aceita, a que entende.”

“Parecia tão infantil que me deu vontade de rir. Então explodir em lágrimas. Os soluços eram tão fortes que chegavam a doer, parecia que nunca mas eu iria me sentir bem em meu próprio corpo. Ele me puxou da cadeira para seu colo. Apertei meu rosto em seu pescoço. Queria me enfiar debaixo de sua  pele. Ele beijou o canto de minha boca.
 - Não me deixe – murmurei.”

“A dor endurecia as assim chamadas pequenas rugas de riso.”

”Eu sei como é quando dói tanto que você deseja machucar alguém e... para onde irei agora?”

“- Apesar do que dizem as pessoas, nunca fica mais fácil, não é mesmo?
- Depois de um tempo ocorre uma espécie de amortecimento, um amortecimento pelo qual você tem de passar se algum dia se levantar da cama uma manhã, lavar a roupa e preparar o café sem se desmanchar em lágrimas. Li histórias sobre crianças que caíram dentro de lagos congelados e que, depois de permanecerem submersas, sobreviveram. Eu me perguntava, então, ‘como será que conseguem?’, mas hoje sei, porque meu sofrimento não é muito diferente da sua sobrevivência. Depois que você atinge um certo grau de frio insuportável há um mecanismo de desligamento que entra em ação. O fluxo do sangue fica mais lento. Os órgãos e as paixões arrefecem. Você faz o que precisa fazer e o faz bem.
- Loucura necessária – murmurei.
- Isso mesmo, e depois, de repente, você se refestela numa poltrona confortável para ler e o sol bate na página do livro. Você incha de alegria, sente que nunca viu algo tão belo e é quando lembra: eu vi, eu vi. Então, respondendo à sua pergunta, não. A dor fica mais sutil, mas de fácil não tem nada.”

“Peguei  seu rosto entre as mãos enluvadas e o beijei na testa.
- Por que fez isso?
- Por você estar aqui. Por me entregar o mapa da estrada para o inferno.”

“De todos os pesadelos possíveis, este era o pior: quando se sonha que se está caindo e que, se não acordar, você morrerá. Mas eu já estava acordada.”

“E assim me virar para seu abraço que me esperava, e quando suas mãos se enfiaram por baixo do tecido fino da camisola, murmurei “eu te amo, eu te amo” em sua nuca, como se o amor bastasse, como se o amor fosse uma armadura, um amuleto capaz de nos conduzir da escuridão para a luz.”

“- Você o amava?
- Sim. Não importa o que você pensa, não importa quão frios e insensíveis ele possa lhe ter contado que tenham sido meus sentimentos em relação a ele; sim, eu o amava.”

“... você está escorregando e eu não consigo segurar você, por mais que me esforce, por mais doce que seja meu abraço.”

“... mesmo em sua dor mais petrificante, lá no fundo de sua mais profunda escuridão, meu amor, eu estou aqui, eu estou aqui.”

“Sorri levemente.
- Então, como tem passado? – perguntou.
Fiz um gesto vago com a mão.
- Estaria mentindo – respondi – se dissesse que estou bem, mas as coisas estão um pouco melhores.
- Isso é muito bom. Sabe o que dizem sobre o tempo...
- Cura todas as ferias, eu sei. Mas não sem deixar cicatrizes, pode acreditar.”

“... como em meus momentos mais negros e mais peçonhentos ele estava disponível, tão disponível a ponto de pegar meu pulso e chupar o veneno da ferida, de correr o risco de ficar com o veneno na boca durante uns poucos e perigosos segundos.”

“Corri para o banheiro e lavei o rosto com água fria. Respirava em arquejos frenéticos. Meus olhos umedeceram-se. Olhei-me no espelho, fitei-me e pensei: “Você tem de ser melhor do que isso”.

“O jogo acabou. Sobrarão pessoas feridas suficientes para rivalizar a magnitude de nossa dor, a dor que juramos que ninguém conseguiria ultrapassar.”

                “E se sentimos medo de causar dor? E se, nós mesmo, temos medo de sentir a dor? Aí, então, é chegado o momento de congelar. De colocar no piloto automático. Da Novocaína psíquica. Levantar-escovar-os-nossos-dentes-escovar-os-nossos-cabelos-preparar-o-café-da-manhã-ir-para-o-trabalho-voltar-para-cara-jantar-cair-na-cama. Não pensar no que está acontecendo. Não permitir que o amor ou a angústia se esgueirem para dentro de você. E então, quando explodirmos, estaremos em campo aberto, sem abrigo, sem máscara, os ossos à mostra, a carne dilacerada.
Deve haver uma outra opção, mas qual?
- Não sei – respondi em voz alta.”

“Quero sair dessa vida como saio de um quarto. Quero ser qualquer pessoa, menos eu.”

“Os eufemismos bondosos e as preparações cuidadosas reduziram-se a um engasgo brutal em minha garganta. [...] Até o ar que circulava entre nós parecia sofrer. [...] Esperei o grito da solidão se apoderar de mim.”

“Cada vez que eu sentir desejo, cada vez que minha língua dormente se voltar para a boca aberta de um estranho, cada vez que minhas pernas se abrirem e meus braços envolverem a cintura de um homem, prometo que vou pensar em você. Em seus olhos castanhos cheios de lágrimas, em seu rosto silencioso, contorcido pela raiva.”

“Eu o desejo aqui em fragmentos: suas mãos excitadas, sua voz como dedos afagando e afastando a dor de um machucado.”

“Você estava distante, sem a menor dúvida. Mas ele não ficaria satisfeito. Nem mesmo se você se jogasse a seus pés. Porque você era a mulher errada.”

“Comemos em silêncio, atravessando uma fronteira num ponto onde o fim era apenas o começo.”

Trechos do livro Loucura Necessária - parte I

“... como a mão desesperada estendendo-se para tocar um rosto que se desvia.”

“Não me abandone, não me abandone jamais.”

“... eu acordava todas as manhãs pensando que encontraria as janelas quebradas, as paredes do quarto rachadas e fendidas, e a cidade inteira desnorteada com o eco sem sentido da reverberação da dor. Ao invés, deparava-me apenas comigo enroscada e tremula no centro do colchão, debaixo de um monte de cobertores.”

“... que continuo igual, que a dor não me modificou, será que não conseguem perceber? Mas às vezes eu mesma sentia dificuldades em acreditar.”

“Você treme, quer calor, quer braços e dedos e vozes e bocas lhe envolvendo, chora. [...] Você sorrirá através da máscara molhada de lágrimas que cobre seu rosto.”

“... embora dividida entre a necessidade de lembrar e o desejo de esquecer; eu não conseguia decidir se devia lutar para alcançar a superfície ou deixar que as águas me levassem.”

“Você tem um talento para se auto-desvalorizar...”

“O tipo de amor perigoso que só acontece uma vez, que cura ou machuca, derrete ou destrói.”

“ – [...] Foi a época mais inocente e feliz de minha vida. Tão feliz que chegava a ser absurda.
- A mais feliz?
- A mais feliz. Estávamos embriagados de nós mesmo. Deslumbrados. Encharcados de uma espécie de felicidade que torna você invencível e imune, mas que, na verdade, lhe deixa vulnerável ao ataque.”

“Se incomodasse eu não estaria aqui. [...] Pensando bem... sim, incomoda. Cada lembrança dele machuca e dói. Mas é viver sem ele... que incomoda mesmo.”

“Todos não param de repetir como sou forte e como estou enfrentando bem essa situação. Mas não. Eu sou perigosa. Porque a dor, em sua essência, é egoísmo. A dor em essência é fome.”

“Tanto fazia o motivo – eu estava só.”

“Às vezes fico espantada que o mundo ainda continue girando.”

“Mas o amor não é isso? A ausência de pretextos?”

“Sabia que era doentio considerar o homem que eu amava como uma droga, mas era verdade. Ele corria em minhas veias. Ele me tocava e eu me aquietava. Ele estimulava as palavras de minha boca calada. Quando se é amado assim, você acaba se tornando egoísta. Acaba não tendo outra alternativa a não ser imaginar como irá sobreviver quando esse amor não existir mais.”

“Nunca consegui fazê-lo entender que eu chorava pelo futuro, pelas coisas erradas que poderiam acontecer mais tarde.”

Dar não é fazer amor

“Dar não é fazer amor. Dar é dar. Fazer amor é lindo, é sublime, é encantador, é esplêndido. Mas dar é bom pra cacete. Dar é aquela coisa que alguém te puxa os cabelos da nuca. Te chama de nomes que eu não escreveria. Não te vira com delicadeza. Não sente vergonha de ritmos animais. Dar é bom. Melhor do que dar, só dar por dar. Dar sem querer casar. Sem querer apresentar pra mãe. Sem querer dar o primeiro abraço no Ano Novo. Dar porque o cara te esquenta a coluna vertebral. Te amolece o gingado. Te molha o instinto. Dar porque a vida é estressante e dar relaxa. Dar porque se você não der para ele hoje, vai dar amanhã, ou depois de amanhã. Tem pessoas que você vai acabar dando, não tem jeito. Dar sem esperar ouvir promessas, sem esperar ouvir carinhos, sem esperar ouvir futuro. Dar é bom, na hora. Durante um mês. Para os mais desavisados, talvez anos. Mas dar é dar demais e ficar vazio. Dar é não ganhar. É não ganhar um eu te amo baixinho perdido no meio do escuro. É não ganhar uma mão no ombro quando o caos da cidade parece querer te abduzir. É não ter alguém pra querer casar, para apresentar pra mãe, pra dar o primeiro abraço de Ano Novo e pra falar: “Que que cê acha amor?”. É não ter companhia garantida para viajar. É não ter para quem ligar quando recebe uma boa notícia. Dar é não querer dormir encaixadinho. É não ter alguém para ouvir seus dengos. Mas dar é inevitável, dê mesmo, dê sempre, dê muito. Mas dê mais ainda, muito mais do que qualquer coisa, uma chance ao amor. Esse sim é o maior tesão. Esse sim relaxa, cura o mau humor, ameniza todas as crises e faz você flutuar. Experimente ser amado... continue "dando"...”
      Tati Bernardi

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Sem sentido

Uma semana antes eu pensei: "eu não quero pensar no fim, eu não quero viver o fim". Uma semana depois pareceu que todos os meus medos e sonhos resolveram se realizar. Eu não esperava, mas já sentia. Eu não queria, mas não tive escolha. Ainda há aquele pontinho de esperança, aquele que me faz vê-lo e sentir cada segundo de tormenta. Eu sinto a dor do mundo, mas um certo alívio. Vai passar, eu sei, todas essas crises existenciais, indiferença e cara feia. É só questão de alguns dias, ou semanas, mas vai passar, como tudo um dia passa e como "nada será do jeito que já foi um dia".
Eu não queria me levantar da cama, não queria ter que encarar o mundo ainda, mas eu me levantei, agi naturalmente, "é só mais um dia qualquer". A caminho, dentro do carro, olhei para o céu e vi aquela mistura triste das cores. Nuvens negras e pesadas, alguns buracos de céu azul. Pensei em como meu coração poderia ser definido naquelas cores, 90% são nuvens negras, cicatrizes, sofrimentos, todas as partes ruins. Os outros 10% são os buracos azuis de céu, espalhados pelo plano de fundo negro, os pequenos buracos que ainda podem ser habitados, o pouco espaço que me torna ainda sensível, ainda romântica, boba e esperançosa. Os 90% me tornam indiferente, insensível, contrariada e querendo odiar o mundo. Mas só querendo. Quem seria eu para odiar tudo o que me fez bem um dia, por mais contraditório que hoje seja? Definitivamente não estaria sendo eu mesma, mas aquela pessoa que a vida me forçou a ser, aquela torta, imperfeita pessoa sem sentimentos que tive de recorrer. Mas não sou, não deixei que 90% da minha vida me transformasse em algo que vai contra os meus princípios.
Quando se está definindo um fim, não esconda nada, não minta nem oculte, não vale a pena. Se acabou pra você, o que te custa dizer o que realmente acontece e me fazer entender? Coisas inacabas ou mal resolvidas nos impede de prosseguir. E eu quero prosseguir, eu quero seguir em frente, quero viver outros amores por mais que eu diga que não, eu quero alguma coisa, pode até ser você de volta, mas que possamos resolver, constatar e guardar como uma boa lembrança.