domingo, 14 de agosto de 2011

Trechos do livro Quem me dera ser feliz, parte I

“Parecia um filme muito antigo e muitas vezes visto, que se repete e se repete diante dos olhos. Monótono. Aborrecido. Desanimador. Um filme triste.”

“Outra triste constatação. Viver num lugar onde as ruínas se tornam ruínas mesmo inacabadas, e com cara de coisa nova, era algo estranho. Não, estranho não. Perturbador.
                ‘Parece que estamos sempre recomeçando...’”

“Era o que todos à sua volta estavam fazendo, lobos esfomeados perseguindo um único pedaço de sobrevivência – que quase sempre acabava rimando com insatisfação e subserviência.”

“Muitas vezes, na falta de coisa melhor para fazer, em que pensar, queria apenas correr, correr para bem longe.”

“Sentiu fome. Sentiu sede. Mas, antes de qualquer outra coisa, um aperto insuportável no coração. É a expectativa que tira a confiança. É a ansiedade que destrói a razão.”

“Pensou em muitas coisas. Contrariedade. Aborrecimento. Chateação. Mau humor. Desistiu no instante seguinte. Perda de tempo... acabaria inevitavelmente se repetindo, dizendo coisas que certamente já deveria ter dito.”

“Nunca pensou que experimentaria tão intensamente sensação tão opressiva e desagradável.”

“Acabava sempre revoltando-se. Era melhor do que simplesmente desistir ou enlouquecer. Na verdade, desistir era enlouquecer.”

“... palavras roçando seus lábios, mas perdendo-se num medo crescente, amordaçadas, despedaçadas, perdidas, terminando por jamais serem ditas. Seria perda de tempo. Mais do que isso, acabariam sendo mais uma vez desculpas, explicações, argumentações, alegações infundadas, esperanças sem valor,  palavras em que ele mesmo não acreditava.”

“Passava horas procurando algum pretexto para extravasar, para discutir com ela e pôr tudo aquilo que sentia,  aquele rancor crescente mas absurdo, para fora.”

“Sempre que retornava, encontrava-se pior do que quando saíra, esperanças redobradas na ida, esperanças destruídas na volta."

“A vergonha machuca. A impotência revolta. A incerteza dói e destrói sem piedade.”

“É duro ser super-qualquer-coisa. Você não pode sentir dor mesmo quando tem as dores do mundo sobre os ombros. Não tem direito ao próprio sorriso, pois a alegria dos outros, os sorrisos dos outros, sempre são mais importantes. Não lhe resta tempo para chorar, pois o choro de tantos se seguirá ao seu. Você não tem vida própria, mas dá-se em tempo integral para que a vida não desapareça daqueles mundos e daqueles rostos que gravitam em torno de você. Você, que tantas vezes é luz, vive nas sombras de uma insatisfação interminável. Morre aos poucos, querendo viver.”

“Compreendia – ninguém cai tantas vezes sem começar a pensar que é incapaz de andar... -, mas não aceitava. Sentia-se traída.”

“Enfrentando desaforos de meio mundo, e ele pensava em fugir, largar tudo, desistir...”

Nenhum comentário:

Postar um comentário