sábado, 10 de dezembro de 2011

Doce ilusão

Eu não sei porque eu ainda insisto se tudo me mostra caminhos contrários. Tenho que manter a doce ilusão de que o melhor está por vir. Vamos pensar no futuro, porque o presente tá esburacado demais. O que andam fazendo com as nossas emoções? E por que fazem? Acalma coração, um dia essa merda toda vai acabar, você está começando certo. Vire do avesso, mude da cabeça aos pés, se distancie e deixe que aconteça. Sorrateiramente.
É o que dá medir os passos, você nunca sabe o que esperar do outro lado. Você procura o melhor e recebe insultos, grosserias, gritos... tudo por uma frase sem deveras importância. E acaba achando que a culpa é mesmo sua. Nos relacionamos e tratamos a outra pessoa como nosso ursinho de pelúcia, e daí se ela também sente? É tudo imaginação. Não adianta dizer eu te amo quado suas atitudes não comprovam, mas distorcem.

Chance

Você diz me amar. Numa frase que dita num momento, noutro é virando a cara, mostrando o quão insensata pode ser uma escolha. O erro é sempre meu? Você nem sequer imagina a realidade por trás dos motivos. Talvez esteja insensível demais para perceber. Pouco importa, já senti uma vez, não vou ser pisada pela mesma sola duas vezes seguidas. Estarei me calando, engulo em seco, mostro-te um doce sorriso e seremos felizes em nossas ilusões. Te enxerga primeiro para depois vir apontar os meus. Tá me perdendo, de novo, e nem percebeu, talvez a reciprocidade esteja aí. "A gente não percebe o amor que se perde aos poucos sem virar carinho. Guardar lá dentro o amor não impede que ele empedre mesmo crendo-se infinito. Tornar o amor real é expulsá-lo de você para que ele possa ser de alguém".
Como que se faz quando se chega a esse estágio da vida? Trata-se na mesma moeda ou eleva o carinho? É o convívio que muda, abaixar o nível não adianta. Sou precipitada ou então meço os atos demais, não se assegure tanto da minha estadia na tua mão, to longe dela. Te dei uma chance uma vez, na verdade, fui atrás para te dá-la, você aceitou com relutância algo que eu deveria cobrar. Esqueço. Te dou mais outra, deixo que volte. Não por amor, mas por não conseguir desistir. Permito que volte, deixo que se arrependa, antes ou depois, tanto faz. Ainda espero você fazer alguma coisa sobre aquilo que me disse uma vez: "eu vou te conquistar de novo". Tenta. Dei um passo pra trás. Lágrimas de boa noite. Deixo a porta aberta para quando quiser entrar e tentar.

Grosseria exclusiva

Diga-me o que você quer, pois eu não aguento mais pisar em falso. Cansei de sermos dois sozinha, de tomar rédea e ter que ser por nós, dessa unilateralidade toda. Cansei de servir como saco de pancada. De ser aquilo onde tudo o que você não quer ser para os outros, é pra mim. De ser única em sua grosseria extrema, dos seus maus tratos, ou até mesmo de servir de escanteio. "Não te quero agora, se afasta!". Se errei me diga onde, pois não consigo enxergar. Já fui atrás, lutei, insisti demais. Chegou a minha hora de jogar tudo pra o alto e me acalmar num canto, deixar que sejam por aí e ser pra mim. É por falta de amor que se compra briga a troco de nada. É desse seu saber tratar com carinho qualquer outro menos a quem deveria ter um cuidado maior que me cansa mais, arranca as estruturas.

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"Mas prefiro ser um bobo com palavras do que simplesmente te deixar de lado". Se quiseres voltar e fazer jus as suas  palavras, estarei esperando. Talvez eu seja uma boba por isso, ou então esteja sendo uma egoísta sem tamanho a deixar que tudo se resolva e ainda assim esperar que você permaneça. Prefiro ser tudo isso, porém preciso daquela velha rotina, das mensagens durante o dia, os abraços de urso intermináveis e as manias exageradas de querer trazer felicidade. Anda faltando você, a parte mais real e sincera que remove as sombras trágicas da escuridão desse coração aberto.

sábado, 12 de novembro de 2011




"Gosto muito de te ver, Leãozinho, caminhando sob o sol. Gosto muito de você, Leãozinho. Para desentristecer, Leãozinho, o meu coração tão só basta eu encontrar você no caminho. Um filhote de leão, raio da manhã, arrastando o meu olhar como um ímã. O meu coração é o sol pai de toda a cor, quando ele lhe doura a pele ao léu. Gosto de te ver ao sol, Leãozinho, de te ver entrar no mar, tua pele, tua luz, tua juba. Gosto de ficar ao sol, Leãozinho, de molhar minha juba, de estar perto de você e entrar numa..."

O Leãozinho, interpretada por Beirut.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Exagero

É isso, esse drama todo... Não quero me sentir em falta, nem a falta que um carinho faz. Mania minha de achar que recebe pouco por dar demais. Sou obrigada a procurar um equilíbrio, para que talvez eu consiga receber um afago de alguém que segundo depois se afasta e achar isso normalíssimo. Estou um tanto cansada de perseguir os rastros do que pode ser, ou seria a minha atenção em demasia que me cega? Olhar para o lado a procura de disfarçar insatisfação, pensar em coisas suaves e lindas para apaziguar a impaciência que traz a ausência do amor demais. Preciso encontrar isso que se relaciona comigo, essa incansável mania de tentar ser e dar o melhor, alguém que lembre de mim e me faça saber disto e olhe nos olhos profundamente e beije a boca o rosto repetidas vezes sem soltar jamais. Se eu tenho te dito pouco em palavras e assim não percebes que estou te dizendo tanto mais é porque não vistes que estou quase gritando na sua cara o que eu sinto vejo aspiro respiro intensifico quero deveras e, está tudo muito explícito na forma que eu me dou contigo, no meu exagero, excesso dramático. Está mais claro do que tudo que fazes e falas e repetes como se fosse lindo.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Caio F. de Abreu


Olha, eu sei que o barco tá furado e sei que você também sabe, mas queria te dizer pra não parar de remar, porque te ver remando me dá vontade de não querer parar também.Tá me entendendo? Eu sei que sim. Eu entro nesse barco, é só me pedir. Nem precisa de jeito certo, só dizer e eu vou. Faz tempo que quero ingressar nessa viagem, mas pra isso preciso saber se você vai também. Porque sozinha, não vou. Não tem como remar sozinha, eu ficaria girando em torno de mim mesma. Mas olha, eu só entro nesse barco se você prometer remar também! Eu abandono tudo, história, passado, cicatrizes. Mudo o visual, deixo o cabelo crescer, começo a comer direito, vou todo dia pra academia. Mas você tem que prometer que vai remar também, com vontade! Eu começo a ler sobre política, futebol, ficção científica. Aprendo a pescar, se precisar. Mas você tem que remar também. Eu desisto fácil, você sabe. E talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos, mas eu entro nesse barco, é só me pedir. Perco o medo de dirigir só pra atravessar o mundo pra te ver todo dia. Mas você tem que me prometer que vai remar junto comigo. Mesmo se esse barco estiver furado eu vou, basta me pedir. Mas a gente tem que afundar junto e descobrir que é possível nadar junto. Eu te ensino a nadar, juro! Mas você tem que me prometer que vai tentar, que vai se esforçar, que vai remar enquanto for preciso, enquanto tiver forças! Você tem que me prometer que essa viagem não vai ser a toa, que vale a pena. Que por você vale a pena. Que por nós vale a pena.
Remar.
Re-amar.
Amar.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Estrada sem mapa

Nos enganamos muito facilmente, as esquinas traiçoeiras nos levando a becos sem saída, ruas largas demais nos deixando sem calçada, levando a morte exata do coração esburacado. Vou passando assim mesmo, já estive por essas bandas antes, reconheço a paisagem cinzenta, só perdi o mapa que volta ou segue em frente. Já vi esse meio-termo da vida que deixa a dúvida: céu estrelado com um luar de tirar o fôlego e a estrada sôfrega, cheia de arranha-céus e buracos profundos e muralhas e prisões. Não sei em qual rua entrar, parece que já estive por todas elas, mas sei que ainda faltam muitas a percorrer, não tenho medo, sigo incessantemente atrás daquele maldito arco-íris que me prometeu a paz. Acho que fui enganada, mais uma vez, sendo que dessa vez por algo que eu nem sabia que tinha esse poder. É você mesma, querida esperança, achei que percorrendo teu beco novamente acharia o rumo pra sair desse círculo, mas você fechou a rua, interditou minha passagem, disse que estava desgastada demais para as solas dos meus sapatos. Acho que o mal são as lembranças. Ninguém as quer comigo, parece que quanto mais insisto em seguir atravessando, mais obstáculos me aparecem. Lembranças que tenho de deixar pra trás para conseguir outras, num jogo de leva-e-trás. Depois as recupero, e assim as terei sorrindo, todas elas. No momento, são os meus maiores males, essas lembranças. Estou guardando-as na caixinha. Agindo de acordo com a batida da vida. E se tiver de ser, que seja. Um beijo.

sábado, 15 de outubro de 2011

Adele

Adele - Take it all


Adele - He won't go


Adele - Now and then

Todas me definem, falam um pouco daquilo que eu não tive a capacidade de expressar.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Em frente, sempre.

Não, não me venha com nada que não seja real. Não me encha com pormenores falsos e expectativas ilusórias. Não chegue perto, não vire o rosto, simplesmente não olhe, não me veja, nem me reconheça. O ano está acabando enfim, daqui a pouco teremos um novo recomeço e só vou desejar coisas boas, em especial, que não te encontre nunca mais na vida. Quem sabe eu me apaixone de novo, quem sabe eu só precise passar um tempo da minha vida me amando e esquecendo qualquer aproximação que venha a derreter o coração. Desejarei um sol tão forte que apague as lembranças; uma lua cada vez mais bela que me tire a solidão com palavras sussurrantes e doces que dizem algo como: 'tudo ficará bem, nada será do jeito que já foi um dia. Ficar sozinha não é ser. Me leve com você'. E eu só terei motivos para sorrir, porque você... ah, velho amigo, você passou como uma brisa leve que beija meu rosto e vai embora. Você apareceu, mas não ficou o suficiente pra me mostrar que quaisquer mudanças futuras sejam fruto de um amor fracassado. Você só chegou pra mostrar um lado da vida que eu ainda não havia visto, e foi embora. Nada muito diferente, só um novo rosto enchendo uma vida de mentiras. É, velho amigo, já estive aqui antes. Até nunca mais. Estou lhe desejando boas decepções, para que você possa crescer encima desses teus erros trágicos. Sim, velho amigo, estou partindo dessa pra melhor. Obrigada.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Diálogo

- Maria, tô triste.
- Ah, claro, você dificilmente é o único. Experimenta passar pelo o que eu passei três vezes seguidas e vem falar comigo.
- (risos) Tu não tem sorte no amor, a verdade é essa...
- É. O que eu posso fazer...?
- Ah, procura outros meios, outros rostos. Pessoas diferentes das que tu já esteve.
- (gargalhadas estrondosas) Antes fosse assim, quem dera eu pudesse simplesmente escolher.
- E se não escolhe, é o que então?
- Aparece. Encontros por acaso. 
- (risadas) Aparece? Saiu, achou, e CABUM? É esse?
- Não, seu bobo. Não mandamos no que sentimos. Não posso escolher por quem deveria gostar. Simplesmente é assim que funciona, não escolho, aparece, e pronto, estou no caminho perdido do amor. Não tenho nada a fazer a respeito... Ah, se eu pudesse só escolher...
- É... 
- Preciso que, dessa vez, seja alguém que valha a pena.
- E os outros, não foram? Afinal, este último foi o melhorzinho, não é?
- Foram, mas estou um tanto cansada dos estragos do final. Em partes, foi, mas sobre gostar de mim, não. O anterior, esse sim, permanece sendo o que amou, o que esteve presente e estaria apto a estar de novo.
- Então, tu voltaria pra ele se tivesse a oportunidade?
- Claro, correndo... Mas ainda assim, são muitos os empecilhos. Nada a se fazer, só viver. E um dia, CABUM, aparece alguém novo ou alguém que volta. Sinceramente, não me importarei se for pra deixar um buraco negro no meu coração de novo, to aqui pra isso mesmo, pra viver. Sorrindo, chorando. Pulando, caindo. O que tiver aí pra mim, to aceitando. De muito bom grado, por sinal.

Dois irmãos conversando...

terça-feira, 11 de outubro de 2011


"(...) Claro que você não tem culpa, coração, caímos exatamente na mesma ratoeira, a única diferença é que você pensa que pode escapar, e eu quero chafurdar na dor deste ferro enfiado fundo na minha garganta seca que só umedece com vodka, me passa o cigarro, não, não estou desesperada, não mais do que sempre estive, nothing special, baby, não estou louca nem bêbada, estou é lúcida pra caralho e sei claramente que não tenho nenhuma outra saída. (...) Não vou tomar nenhuma medida drástica, a não ser continuar, tem coisa mais destrutiva que insistir sem fé nenhuma?”

Caio Fernando de Abreu

Rumo novo

Pago um preço alto por ser diferente, por não ter medo de dizer o que penso. Não camuflo minhas opiniões, muito menos meus erros. Não me escondo atrás da superficialidade - a intensidade me atrai. Estou me distanciando desses caminhos repletos de coisas falsas, cansei de bater a cara contra a parede. Estou mudando de direção, seguindo um rumo novo onde encontro pessoas que merecem ser observadas, que irradiam sinceridade, mantendo a lealdade. Estou no fogo ardente do sol, com a vista ofuscada de tantas coisas novas a serem seguidas. Deixo o passado em seu lugar, rasguei da minha vida a tal história perdida, sem final. Congelei o coração, estou fria até aonde o vento não chega. Ninguém entra mais por essa porta, estou maltratando quem tenta, iludindo os olhos de quem jura que vê beleza aqui, não quero machucar ninguém, mas se insistir, vou reprimir, cortar pela raiz. Ninguém mais me domina nem me possui, a não ser eu mesma.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Vês? Me conheces...

Tens sido pra mim mais do que eu esperava, fazes mais do que eu sequer imaginei que alguém pudesse fazer. Não tens desistido das minhas loucuras nem mesmo quando eu te rejeito, te ignoro, esqueço. Permanece aceso na minha vida como sol no universo, nem sequer pensa no depois, só quer me ajudar a sair do agora, pois vê em mim mais do que qualquer outra pessoa tentou ou ousou ver. Não usamos clichê algum, não somos um, somos alguma coisa muito estranha e unida, sem precisar de frases prontas. Às vezes, uma mensagem que nada diz pra alguém diz tudo pra ti, descobre até o olhar e sorriso que está preso a minha face. Você me conhece, qualquer outro não, tens nas mãos o mapa exato com suas devidas descrições daquilo que sou, você sim, me conhece.

Diferente de você...

Diferente de você, ele não vai embora. Ele não desistiu, e perceba que não há amor sobre nenhuma das partes, mesmo assim ele não desiste de mim. Diferente de você, ele me vê, me conhece, e me mantém perto. Ele me acolhe, me deixa chorar e enxuga as lágrimas que não se seguram e se jogam no abismo, ele permanece, diferente de você... Ele está aqui, sabe do que eu preciso e mesmo sem saber, faz. Não me retém, não exclui, não me deixa de escanteio, não briga por um olhar triste que deixo escapar. Diferente de você que pisoteia tudo meu que se encontra no teu caminho.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Agora não posso mais

Sinto-me diferente do que sempre fui. Mas não sei o que mudou, ainda não consigo compreender. Meu emocional está tão destruído que algumas dessas mudanças estão recorrendo a destruição do meu físico. Então, me pergunto, por que agora tenho o que tanto me faltou? Por que, exatamente desse jeito que me encontro, aparecem pessoas que se importam realmente comigo e não com o estereótipo? Onde está a diferença? Foi eu que mudei, ou foram as situações e pessoas que me veem de uma outra forma? Talvez tenha mudado, sei que estou mais segura em relação a minha dor, mais fria, e me mantendo distante de aproximações, mas continuo não conseguindo disfarçar essas cicatrizes, meu rosto continua mostrando demais... então, por quê? Por que alguém se interessaria pelo meu desespero? Há algum mistério nisso? Será o mistério? O querer desvendar o que se passa nesse corpo fragilizado mas confiante, descobrir a origem das estampas tristes e loucas? Por que agora? Exatamente agora, quando eu não quero mais me permitir amar?

Desistindo...

Oi, eu ainda te amo, prova disso é a minha dor. Meu sofrimento é pura honra, o mais digno daquilo que ainda sinto, é a maior prova de que absolutamente tudo foi real, tudo o que fiz e disse, todos os arrependimentos e erros. Já você, não sei, não te sinto mais, nem reconheço, muito menos conheço. Desculpe, eu não te amo, a pessoa pela qual eu perdidamente me apaixonei e hoje ainda amo deixou de existir, e se ainda existe, está escondida em algum lugar que eu não consigo encontrar. Estou desistindo da melhor forma possível, desisto de enlouquecer. Você não vale a pena, este você que eu nem sei quem é.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Vem, me empurra

O problema é eu deixar que me ajudem. Poder te tirar esse peso todo já me alivia, receber suas mensagens inesperadamente já me abre sorrisos, sentir seu abraço de urso no meio do caos me faz lembrar que eu posso ser feliz, que talvez eu mereça algo melhor do que todas as merdas que a vida vem me dando. Talvez ainda não lhe tenha dito que eu nunca dispus de algo/alguém assim, que estivesse por mim quando tudo parecesse perdido, um ombro pra encharcar, uma mão me puxando de volta, um olhar de carinho, uma súplica para me manter perto. Não tive ninguém para me empurrar pra frente quando o único caminho que me restava era descer mais e mais, voltar pra atrás. Ter você pra me tirar essa dor de vez em quando, ou pra me lembrar do quanto eu sou forte e do quanto não vale a pena endurecer por isso e por tantas outras coisas. A ajuda que você me fornece não se equipara ao pouco que eu estou conseguindo lhe dar. Não ter ninguém nunca, e de repente ter alguém assim, para todos os casos e acasos, é diferente, é estranho, e eu não sei lidar com isso. Ao mesmo tempo que me surpreende, me assusta... Me faz recuar, por medo. Medo de ser abandonada mais uma vez. De ser esquecida num cantinho qualquer a espera de alguma coisa nova. Estou na expectativa de conseguir seguir em frente, e você vem me empurrando. Não peço mais do que já vens me dando.

Vamos embora

A dor é estranha. Um gato matando um passarinho, um acidente de carro, um incêndio... A dor chega, BANG, e aí está ela, instalada em você. É real. Aos olhos dos outros, parece que você está de bobeira. Um idiota, de repente. Não há cura pra dor, a menos que você conheça alguém capaz de entender seus sentimentos e saiba como ajudar. E eu quero que você no fundo, lembre que eu estou disposto a isso. Eu vi pelo o que você passou, eu não presenciei tanto, mas deu para ver o seu choro silencioso, tudo que mais te doeu. Eu acho que você foi um dos motivos deu ter vindo embora mais cedo, por mim, eu teria ficado. Mas eu pensei em você e vim. Sei lá, acordar na Bahia logo cedo num ambiente totalmente tranquilo com as mensagens de 'bom dia' e outras coisas mais, valeu mais do que a pena ter feito tudo aquilo para viajar pra lá. Talvez esteja falando besteira demais, talvez não. Mas eu cansei de te ver triste e de te ver magoada. E se você tá me ajudando, eu quero te levar disso tudo.

Emanuel Alves

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Distância resulta desconhecer

Esses dias tenho feito questão de lembrar, de entender o motivo de toda a distância e todo o motivo de querer continuar mantendo-a. Não me culpo mais, não me vejo a causadora da falta, fiz o possível, mas deixei de tentar o impossível, talvez pela falta de reciprocidade. Não vou mentir, te culpo em partes, mas não te julgo por isso, só estou desistindo. Tenho sentido tanto que não tive escolha, desculpe se isso acaba se tornando um incômodo, mas não nos conhecemos mais e eu sinto falta de ter me conhecido. Tenho sentido falta de tudo, essa tal da tristeza está me atacando em todas as partes, pegando o passado e fazendo-o presente, tornando a dor da perda mais insuportável. Onde foi que eu errei? Você deve saber que me sinto insegura, inferior e desimportante pra ti, e talvez isso não faça muita diferença. Estou dramatizando? Pode ser, mas perder nunca foi fácil. E perder alguém que julgava pra vida inteira é uma tarefa muito mais árdua que qualquer outra, que intensifica todas as outras dores. Sinto muito.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Essencial

Se tornastes mais do que um amigo, equivalente ao essencial para que os dias passem sem muito desespero. Quando olho para o lado a procura de alguma coisa além de eu mesma, é você que encontro, em qualquer situação, qualquer desafio. Mesmo estando tão longe, continua se fazendo presente, sempre. E essa distância vem intensificando aquela coisa que a gente chama de "saudade", esse sentimento que ora angustia, ora te abre sorrisos. Intensifica a dor no peito e a sensação de perda, cria intimidades antes esquecidas. E normalmente, quando o mundo parece querer desabar sobre nossas cabeças, é em nossas mensagens de apelo que nos reencontramos, que nos reerguemos sob muito esforço para estarmos presentes um para o outro, e deixo que palavras suaves saiam da minha boca sem esperar retorno, porque estamos necessitando de qualquer coisa real e sincera, e é isso que nós estamos conseguindo ser: alívio, sorriso, sinceridade, dor, desapego. E quando falta a sanidade, é nas tuas palavras de conforto que consigo encontrar o caminho, a trilha que volta para o lugar calmo dos meus olhos tristes e sorriso fraco. É você que me tira do desvio amedrontador da solidão que me puxa para baixo, me mostrando a luz forte do sol que entra pela janela.  É você que vem me salvando quando penso que desistir de tudo é realmente a salvação.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Trechos de Cecília Meireles

"Levai-me aonde quiserdes! - aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira."

"E o sorriso de uma alegria que eu não tive, mas te dava."

"Tudo em ti era uma ausência que se demorava: uma despedida pronta a cumprir-se. Sentindo-o, cobria minhas lágrimas com um riso doido. Agora, tenho medo que não visses o que havia por detrás dele. Aqui está meu rosto verdadeiro, (...) dize-me qual de nós morreu mais."

"Não sofras, por não te poderes levantar do abismo em que te reclinas: não sofras, também, se um pouco de choro se debruça nos meus olhos, procurando-te. (...) Foi lição tua chorar pouco, para sofrer mais."

"Não sofras por teres vindo. Alguém nos mandou de longe para ver como ficava um rosto humano banhado de desilusão. (...) Iremos a outros lugares, onde talvez haja tempo, misericórdia, viventes, amor, ocasião."

"O tempo seca a beleza, seca o amor, seca as palavras. (...) O tempo seca a saudade, seca as lembranças e as lágrimas. Deixa algum retrato, apenas, vagando seco e vazio. (...) O tempo seca o desejo e suas velhas batalhas. (...) Esperarei pelo tempo com suas conquistas áridas. Esperarei que te seque."

"Meus olhos, ricos de amor, sofriam de indiferença."

"Liberdade - essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explicar, e ninguém que não entenda!"

"De longe te hei de amar, - da tranquila distância em que o amor é saudade e o desejo, constância. (...) De um salto firme e tremendo, - tão de além! - chega-se onde estou vivendo sem ninguém. Gostava de estar contigo: mas fugi. Hoje, o que sonho, consigo, já sem ti. Verei, como quem sempre ama, que te vais. Não se volta, não se chama nunca mais. (...) Se perguntam como vivo? - De adeus."

Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?

Cecília Meireles

Coração de Pedra

Oh, quanto me pesa
este coração, que é de pedra!
Este coração que era de asas
de música e tempo de lágrimas.

Mas agora é sílex e quebra
qualquer dura ponta de seta.

Oh, como não me alegra
ter este coração de pedra!

Dizer por que assim me fizestes,
vós todos a quem amaria,
mas não amarei, pois sois estes
que assim me deixastes, amarga,
sem asas, sem música e lágrimas,

assombrada, triste e severa
e com meu coração de pedra!

Oh, quanto me pesa
ver meu próprio amor que se quebra!
O amor que era mais forte e voava
mais que qualquer seta!

Cecília Meireles

Sugestão

Sede assim - qualquer coisa
serena, isenta, fiel.

Flor que se cumpre,
sem pergunta.

Onda que se esforça,
por exercício desinteressado.

Lua que envolve igualmente
os noivos abraçados
e os soldados já frios.

Também como este ar da noite:
sussurrante de silêncios,
cheio de nascimentos e pétalas.

Igual à perda detida,
sustentando seu demorado destino.
E à nuvem, leve e bela,
vivendo de nunca chegar a ser.

À cigarra, queimando-se em música,
ao camelo que mastiga sua longa solidão,
ao pássaro que procura o fim do mundo,
ao boi que vai com inocência para a morte.

Sede assim - qualquer coisa
serena, isenta, fiel.

Não como o resto dos homens.

Cecília Meireles

Trecho do poema Monólogo

Para onde vão minhas palavras,
se já não me escutas?
Para onde iriam, quando me escutavas?
E quando me escutastes? - Nunca.

Perdido, perdido. Ai, tudo foi perdido!
Eu e tu perdemos tudo.
Suplicávamos o infinito.
Só nos deram o mundo.

Cecília Meireles

Explicação

O pensamento é triste; o amor, insuficiente;
e eu quero sempre mais do que vem nos milagres.
Deixo que a terra me sustente:
guardo o resto para mais tarde.

Deus não fala comigo - e eu sei que me conhece.
A antigos ventos dei as lágrimas que tinha.
A estrela sobre, a estrela desce...
- espero a minha própria vinda.

(Navego pela memória
sem margens.

Alguém conta a minha história
e alguém mata os personagens.)

Cecília Meireles

domingo, 4 de setembro de 2011

"Moço, maltratar não é direito, esse mágoa no meu peito você sabe de onde vem. Isso é desamor e não tem jeito, um amor quando desfeito sempre faz alguém chorar, eu chorei. Saudade tá doendo e lá vem você querendo outra vez me maltratar. Um amor só é bom quando é pra dois, eterno é antes e depois. Agora não vou mais me enganar, não quero mais sofrer, não dá. Se o teu desejo era me ver, se deu vontade de saber se estou feliz, até posso dizer que sim, o teu reinado acabou, chegou ao fim, eu não nasci pra você, nem você pra mim."

Maltratar, não é direito - intérprete Maria Rita

Trechos do livro As solas do sol

"Deixaram-me sonhar-te, não ser teu dono."
Jorge Luis Borges

"Tua companhia é o endereço da fúria. (...) Aspiravas possuir o que não tinha e ser a alegria da dor que mansamente escapava."

"Entreguei o olhar à estranha e na sua estranheza mobiliei teu corpo."

"Um rosto conhecido usou o desconhecido do teu rosto."

"Manhã tão forte que me anoiteceu."
Mário de Sá-Carneiro

"O tempo não estava na matéria. O saber concebido para não ser compreendido. Após a pressa, o escorrer do pranto. (...)
- Estou surdo de tanto vê-lo"

"O desejo apartado, recolhido em outro fuso horário."

"A ausência de Deus me protege."
Hördelin

Carpinejar

sábado, 3 de setembro de 2011

Calma...!

Tenha calma, nem tudo é do jeito que se espera, e se esperar, será decepção. Mantenha a calma, o amor tem dessas coisas mesmo, vai e volta, não sabe se fica, e tem dois lados opostos demais que te confundem, mas mantenha a calma, ele continua sendo lindo de todo jeito. Não chore em público, não dê esse gostinho a maldade alheia, não deixe que as lágrimas manchem esse rosto bonito. Psiu, ei, você mesmo, se quiser chorar, pode, mas sozinha ou com alguém que te ofereça um ombro e silêncio, chore, deixe sair essa coisa horrível de dentro de você e se for pra chorar mesmo, lembre-se de depois erguer o rosto e prosseguir. Aceite o fim, eles sempre virão, independente do que o futuro te reserva, saiba: os fins sempre virão, eles estão em todos os lugares. Ei criança, eu tenho uma dor, eu sei o que é sofrer, mas não deixe que isso te derrube, não deixe que a vida te tire a esperança de recomeçar. Acabou? Recomece, agora recomece melhor, superior, não diminua, amadureça. Os fins servem pra isso se você souber ver o lado bom da coisa. Calma, eu estou aqui, compartilharei da sua dor se permitir, guardarei a minha na caixinha de decepções e te levarei a um lugar calmo onde você possa encharcar a minha blusa, eu não me importo. Ei, não desista de mim, eu ainda tenho jeito...

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Raiva

A raiva é um sentimento, uma sensação aterrorizante. É algo que te consome por inteiro e te cega, te faz pensar e fazer besteiras. Fora o motivo principal, há aqueles detalhes incessantes aumentando a cegueira, a dor, o tremor, os murros na parede. Parece que ninguém quer nem saber se você está prestes a se machucar sem perceber, eles só querem te ver mais brava ainda, mais louca, e mais decepcionada. E sinceramente, que a porra do amor nunca volte, que a dor e o inferno vão pra puta que o pariu, e que você, ah, pra você eu tenho o melhor lugar, aguarde e verás.
Por mais cega de raiva que eu esteja, consigo ver claramente a merda que você é, que a coisa toda não passou de uma brincadeira sem graça, e que preocupação nenhuma te atinge, porque você não vale nada, não vale o meu pesar e muito menos a porcaria do amor que insiste em me alucinar. Quer saber mais? Você e o amor podem ir embora pra sempre, e sabe o que eu vou achar disso? POUCO, muito pouco. Te desejo todas as decepções do mundo, para que assim entre nessa merda da tua cabeça algum senso comum ou alguma verdade. Você é um mentiroso de merda, e a partir de hoje eu estarei CAGANDO E ANDANDO pra você, seu merda! Eu te odeio tanto...

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Nostalgia mescla angústia e dúvida

Pouco sei sobre para onde estou indo ou por onde devo ir, ou qual caminho seguir. Minhas emoções estão confusas, numa semana sinto-me bem, livre e, de certa forma, feliz; noutra, fico numa nostalgia e anseios estranhos, o coração aperta e não sei o que ele anda querendo me dizer.
Hora ou outra me pergunto por que o amor que me tiveram não pode permanecer como nele permaneceu. Que vidinha mais ou menos, não é? Quando tudo está indo tão bem, tem que ter alguma coisa pra dizer: "o sofrimento existe. Felicidade plena? Nem sonhe. A esperança vai permanecer, mas o amor, ah, o amor vai e vem, quem sabe depois, aprenda a viver sozinha - e esperando". Ou então, quando tudo vai mal, tem o amor, risos, e contradições. Quando o fim chega, o dito respeito e consideração que juram permanecer, vai se escorrendo pelo ralo. Não resta nada, há não ser certo desprezo, indiferença e vontade inconsciente de fazer o outro sofrer. Quem mandou não ser perfeita?
"Por que você não se lembra da razão pela qual me amou antes? Por favor, lembre-se de mim uma vez mais."
Fica cada vez mais complicado discernir a verdade da mentira, o que foi real da ilusão, o que restou do que ficou. Fica difícil entender ou sequer imaginar... Mas a gente vai vendo e acaba percebendo que, na real?, foi tudo mentira, ou quase tudo...

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Trechos do livro O Pequeno Príncipe


“É tão misterioso o país das lágrimas!”

“Deveria tê-la julgado por seus atos, não pelas palavras. Ela exalava perfume e me alegrava... Não podia jamais tê-la abandonado. (...) Mas eu era jovem demais para saber amá-la.”

“Eu fui uma tola. Peço-te perdão. Procura ser feliz.”

“É claro que eu te amo. Foi minha culpa não perceberes isto. Mas não tem importância. Foste tão tolo quanto eu. Tenta ser feliz...”

“É preciso exigir de cada um o que cada um pode dar.”

“É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se consegues fazer um bom julgamento de ti, és um verdadeiro sábio.”

“Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...”

“A linguagem é uma fonte de mal-entendidos.”

“Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz! Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar meu coração...”

“Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos.”

“Foi o tempo que perdeste com tua rosa que a fez tão importante.”

“Os homens esqueceram essa verdade. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.”

“A gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixou cativar...”

“O sentimento do irremediável me fez gelar de novo. E eu compreendi que não poderia suportar a ideia de nunca mais esse riso. Ele era para mim como uma fonte no deserto.”

Trechos do livro Meu pé de laranja lima


“Você será o sol, e as estrelas vão brilhar ao seu redor.”
“Vida nova e esperanças simples, simples esperanças.”
“- Fica feio se eu chorar?
- Nunca é feio chorar, bobo. Por quê?
- Não sei, ainda não me acostumei. Parece que aqui dentro a minha gaiola ficou vazia demais...”

“Você precis saber que o coração da gente tem que ser muito grande e caber tudo que a gente gosta.”

“Mas faltava qualquer coisa. Qualquer coisa importante que me fizesse voltar a ser o mesmo, talvez a acreditar nas pessoas, na bondade delas.”

“- Não faz mal, eu vou matar ele.
- Que é isso menino, matares teu pai?
- Vou, sim. Eu já até que comecei. Matar não quer dizer a gente pegar o revólver de Buck Jones e fazer bum! Não é isso. A gente mata no coração. Vai deixando de querer bem. E um a dia a pessoa morre.”

“Meus olhos ficaram covardemente cheio de lágrimas.
- Mas tu deves admitir que às vezes a gente também possa sonhar.
- É que você não me botou no seu sonho.”

“Agora sabia mesmo o que era a dor. Dor não era apanhar de desmaiar. Não era cortar o pé com caco de vidro e levar pontos na farmácia. Dor era aquilo, que doía o coração todinho, que a gente tinha que morrer com ela, sem poder contar para ninguém o segredo. Dor que dava desânimo nos braços, na cabeça, até na vontade de virar a cabeça no travesseiro.”

“Às vezes sou feliz na minha ternura, às vezes me engano, o que  é mais comum.”

“A verdade (...) é que a mim contaram as coisas muito cedo.”

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Depoimento de um coração confuso


A felicidade é dividida em duas partes: o “estar” feliz e o “ser” feliz. Estar é coisa passageira, momentos que vão e passam, sem pedir licença. Ser permanece, se instala, pede por favor, agradece e fica, promete amor, carinho e cuidado, sozinho, só precisa ser você. Estar é coisa de quem não sabe nada, ser é coisa de quem  não sabe nada, mas também não tem nada. Ser é a certeza de ser e de não precisar de nada em troca, estar é reciprocidade. Dramático no final, no não-estar, quando vai embora. Ser é ser sem se importar, sem pensar, sem querer, só sendo. Estar é ter e querer mais e quando não tem,  passa. Estar é a curto prazo, se tem rápido e vai embora mais rápido ainda, como quem vê um fantasma. Ser é a longo prazo num prazo tão longo que não se é prazo, é eterno. Há muito tempo eu não sou, eu estou, fico entre o estar e o não-estar. Hoje eu estou feliz, mas não sou.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Reconstruindo


Questões, (...) perguntas, dúvidas. São tantos, tantos vazios sem respostas que eu poderia deixar de viver, que o passarinho que canta poderia perder o afinado, o sol poderia virar lua, que o preto não desbotasse o branco, que... que mesmo assim o espaço debaixo da questão continuaria em branco. Conjunto vazio.
O sol bateu com um estrondo, impaciente, como se tivesse esperado muito tempo, mas isso não significava que ele sempre fora assim. Ele me esperou, esperou por dias incontáveis, dias que não quis viver. Durante esses dias, eu sei, eu tenho certeza... E que certeza é essa? De onde vem tanta convicção, tanta segurança no que diz, diz em palavras mudas, diz só pra si. Não sei, mas quis acreditar nessa falsa certeza, quis acreditar nesse talvez antes que perca a fé em tudo. Me convenci. Eu sabia que o sol tinha batido, insistido, lutado e grudado em minha janela como quem encosta o ouvido eriçado de curiosidade, a vontade de saber, decifrar, escutar o som que rola depois da porta.
Será que ele pensou que dessa eu não escaparia? Que me perderia na escuridão que dominava toda a extensão das minhas pálpebras fechadas, sem nenhum vestígio de imagem, de cor? Não. Tinha cor, a única cor, a cor do desespero, da beira do fio entre a lucidez e a loucura.
(...) Continuei parada na cama agitada pelos cobertores, lenços e papéis, rabiscos. Talvez fossem até cartas, cartas sem destinatário, sem rumo. Ou não. Ou mais, poderiam ser ditas. Ditos meus escritos involuntariamente inconscientes, apenas jogados, jorrando e deixando junto com o rio salgado que desaguava sobre a pele alva da folha, que absorvia gentilmente como um ombro, sendo amigo ou não, apenas um ombro, confortável, acolhedor, que aceitou receber as lágrimas pacientemente, sem se importar com a blusa molhada por causa dos soluços, sem se importar de usar a mão. (...) É preciso (...) que se disponha a afagar suas costas, passar a mão sobre seu rosto, te oferecer um lenço.
Me recusei a tentar decifrar as sílabas, juntá-las, uma por uma até que a  palavra seja absorvida. Que irônico, se me recuso a tamanho esforço, apenas juntar fragmentos de uma palavra qualquer, como posso eu juntar meus próprios cacos? A pergunta veio como uma bomba, uma bomba que estava programada, mas não com aqueles números pintados de sangue gritando, correndo em ordem decrescente até chegar ao último segundo antes do caos. A bomba seguia ao contrário, porém a cor de sangue parecia mais viva, intensa, que seguia contando desde os segundos até as horas, talvez já marcassem os dias que se passaram, que eu odiava e penso que poderia ter prolongado mais. Foi inevitável, imprevisível. A bomba explodiu. Acidentalmente apertei o botão vermelho, cortei o cabo errado. O efeito da explosão foi imediato, e tudo o que havia dentro de mim sentiu todo o impacto. Foi como um ataque de guerra com um único objetivo traçado, executado. Destruição, desespero. As faíscas se espalharam, a poeira e tudo que há de mal ainda estava de pé, subiu e desceu.
(...) Se antes, dentro de mim só existia uma pequena e única luz em meio a tamanho breu, agora... agora não existe mais nada, nada além de um espaço como a máscara do desespero, uma cena trágica que despertaria água no meio do sertão, lágimas em olhos desidratados, quentura numa pedra de gelo em volta do coração. (...) Que coração? O choro doía, doía a cada lágrima que saía, uma seguida da outra, e os olhos inchados clamavam para que estancassem aquele sangramento. A vontade de vomitar veio. Me curvei, suei, senti a barriga se contorcer e jogar o que tinha para fora. Nada. Não tinha nada desde muito tempo. Desde muito tempo soube muito pouco e do nada, nada resta, vai muito além da linha do vazio.
Tontura e dor. (...) Gostaria agora de um porre, o pior que tivesse, queria jogar álcool aqui dentro e incendiar os entulhos, os destroços. Não quero mais restos, não quero construir algo em cima de merda, de um terreno esburacado, pois de buracos já basta o meu.
(...) A legião de mães devem estar procurando seus brotinhos, seus frutos, seus guris que ainda nada sabem dessa vida, para tomar banho, tirar a lama, passar remédio em seus joelhos e mãos raladas, acariciá-los e depois pôr na mesa de toalha florida, suas guloseimas pra repor as energias e pinotar pintando o pôr-do-sol. Senti inveja. Ninguém me daria um banho, tiraria meu suor, me ofereceria um café preto e forte. (...) Ninguém se disponibilizaria de boa vontade e colocaria remédio e assopraria para não arder e que fosse me falar: "Calma, já já fica melhor, cura". Ninguém limparia minhas feridas ou faria um curativo. Mas eu não podia deixar o sangue grudar e secar em cima, não posso deixar a ferida aberta. (...) Eu mesma farei tudo isso, e em seguida dormirei em panos limpos que cheirem a luz, ao nascer do sol. Cairei para que me levante. Deu-se início a reconstrução.

Maressa Fauzia

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Tenho amigos que são tristemente alegres. Eles não conseguiram anular uma tristeza. Ela ficou a endividar o riso. Permanece como uma cicatriz, uma queimadura. Não apaga a água ou as alegrias. Convive junto, sempre. Não arreda pé da sala. Não permite ao rosto se contorcer de exultação. O riso é uma vez por lado, contido, como remos sincronizados. Como se o riso fosse apenas um entristecer dos dentes. Há amigos que pensam nessa tristeza fazendo novas coisas. E a tristeza pensa neles nas horas mais impróprias. Não há como aplacar esse sentimento - ao mesmo tempo - miúdo para ser reparado e extraviado para ser dito. Não é benigno ou maligno. Não é doença, muito menos saúde. É algo que se aprendeu quando não se prestava atenção. Uma tristeza assobiada, sem que conheça o alfabeto para se confessar. Uma tristeza suave, como uma criança que senta diante da máquina de lavar com os mesmos modos de uma televisão. Uma tristeza sem lugar para ir, que se acostumou a personalidade, que seca a louça de manhã. Uma tristeza que é charme, mas não chega a ser simpatia, que convida para a conversa, mas não tem o que falar. Uma tristeza calma, alimentada, que se contenta com pouco, que senta nos degraus da escada e divide os latidos da quadra em casas. Uma tristeza quase subterrânea, um rádio ligado entre duas estações. Não se mistura, não se guarda. Podia ser nostalgia, podia ser saudade, nada é de ambas por não se distanciar. Uma tristeza que arruma a cama e não se deita, envelopa as cartas e não escreve. Uma tristeza que é tremor de frio, um suor desajeitado, uma fisgada no braço, que movimenta os ouvidos involuntariamente. Uma tristeza tímida, não envergonhada. Uma tristeza sábia, que não é excluída com uma outra tristeza maior. Uma fogueira que a pá de terra não abaixa. Uma tristeza que veio de algum estalo, fissura, de um amor sacrificado, de uma amizade desmentida, de uma morte prematura, de uma viagem adiada. Medo de não ter vivido o bastante, covardia de não viver como se deve. Uma tristeza experiente, que não se repete. Que não salva, porém conforta. Que torna a feição séria como quem se escuta. Uma tristeza sem par para dançar. Isolada demais para ser lembrança. Antiga demais para ser futuro. Uma tristeza que acontece alegremente, mas ainda assim tristeza.

Fabrício Carpinejar

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Constatação


Agora é se contentar com a realidade e viver para mim, não para ele. A situação a que me encontro daqui a pouco irá passar, só não posso ficar pulando etapas e fingindo que não estou sofrendo. Estou sim. Ainda tenho muito o que chorar, depois é só enxugar as lágrimas, andar mais alguns passos, e se for pra chorar de novo, tudo bem, vai chegar um dia que não vai ter mais importância. Agora se eu ficar guardando tudo dentro de mim, me fazendo acreditar numa realidade que não existe, só vai ser pior, porque são sorrisos falsos agora, e lágrimas torrenciais depois.
Chega um momento que a gente tem que aprender, não adianta só fugir. E tenho que expor toda a trajetória, deixar tudo bem claro e continuar seguindo, se ele preferir do jeito que está, o problema é dele - em parcela meu também, mas será o momento em que eu terei de deixar de agir pensando nele. Não adianta viver em função dele, se tiver de voltar, ele volta, não sou eu que vou forçá-lo a isso. Viverei a minha vida do meu jeito e do jeito que eu quero, isso está em primeiro lugar, ele vem depois. Sem mais nem menos.
Quando eu estou sem nada pra fazer, fico escutando aquelas músicas, vendo aqueles textos, as fotos... mas não choro, o que é incrível de certa forma, não vejo mais necessidade. Ou então procuro assistir alguma coisa que me distraia, um livro esquecido num canto... Mantenho a mente ocupada, mas eu tenho que me deixar sentir também, senão até quando eu vou ficar escondendo o que eu sinto? Até quando eu não vou me permitir pensar? Na verdade, não sei ao certo como estou, como me encontro. Só que vontade de chorar não tenho, e ficar com alguém me parece algo de outro mundo. E se me perguntarem se estou sofrendo, direi que sim, mas eu saberei que depois passará, é só por a maquiagem, pegar o salto e sair, ir se divertir; e se em algum momento pensar de novo e quiser chorar, chorarei, mas seguirei adiante.
Eu já estabeleci o meu limite perante ele. Há um círculo ao seu redor que eu não posso ultrapassar. Não estou afim de me desgastar com alguém que pouco demonstra depois de tanto ter demonstrado. Não sei mais de nada. Só me resta aquele famoso clichê de dar tempo ao tempo. E curtir o meu luto, porque o luto não é só quando alguém morre, mas quando a gente perde algo. Mais ou menos assim.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Não

Não adianta se preocupar. Nada do que você faça será suficiente. Às vezes, o melhor mesmo é desistir. Ei esperança, me esquece! Por mais dócil que você seja, indiferente, ou seja lá o que for, não será suficiente. E adianta mesmo continuar pensando? Adianta sequer olhar nos olhos, por mais lindos que sejam? Adianta esperar que as brincadeirinhas e os olhares rápidos valham alguma coisa, quando o que só se escuta depois são patadas e maior indiferença? Nem um "ei, obrigado, to bem sozinho"? Ou então "me deixa em paz"? Ou "nada do que você falar ou fizer fará diferença alguma"? Não, mané, você não passa de uma qualquer que já passou, nem colega, nem amiga, nem porra nenhuma você é ou será. Cai na real. Acabou.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Dr. House

- Eu era arquiteta.
- Abandonou arquitetura após conseguir enxergar?
- O mundo era feio. Acha que o mundo seria diferente se sua perna fosse boa?
- Não.
- Acha que você seria diferente se sua perna fosse boa? Os médicos me disseram que minha vida seria bem melhor quando eu enxergasse. Eu ia ter encontros, dançaria, mas os caras com quem eu odiava dançar antes continuei odiando depois. Meus pais continuaram mortos, e ainda estou sozinha.
- Você é divertida.
- Você não parece tão diferente.
- Ainda não desisti.

[...]

- Há duas coisas que você ignora: as que não são importantes, e as que você deseja que não fossem importantes.
Eu quase consegui abraçar alguém semana passada. Por um milésimo de segundo eu fechei os olhos e senti meu peito esvaziado de você. Foi realmente quase. Acho que estou andando pra frente. Ontem ri tanto no jantar, tanto que quase fui feliz de novo. Ouvi uma história muito engraçada sobre uma diretora de criação maluca que fez os funcionários irem trabalhar de pijama. Mas aí lembrei, no meio da minha gargalhada, como eu queria contar essa história para você. E fiquei triste de novo. Hoje uma pessoa disse que está apaixonada por mim. Quem diria? Alguém gosta de mim. E o mais louco de tudo nem é isso. O mais louco de tudo é que eu também acho que gosto dele. Quase consigo me animar com essa história, mas me animar ou gostar de alguém me lembra você. E fico triste novamente. Eu achei que quando passasse o tempo, eu achei que quando eu finalmente te visse tão livre, tão forte e tão indiferente, eu achei que quando eu sentisse o fim, eu achei que passaria. Não passa nunca, mas quase passa todos os dias. Chorar deixou de ser uma necessidade e virou apenas uma iminência. Sofrer deixou de ser algo maior do que eu e passou a ser um pontinho ali, no mesmo lugar, incomodando a cada segundo, me lembrando o tempo todo que aquele pontinho é um resto, um quase não pontinho. Você, que já foi tudo e mais um pouco, é agora um quase. Um quase que não me deixa ser inteira em nada, plena em nada, tranqüila em nada, feliz em nada. Todos os dias eu quase te ligo, eu quase consigo ser leve e te dizer: “Ei, não quer conhecer minha casa nova?” Eu quase consigo te tratar como nada. Mas aí quase desisto de tudo, quase ignoro tudo, quase consigo, sem nenhuma ansiedade, terminar o dia tendo a certeza de que é só mais um dia com um restinho de quase e que um restinho de quase, uma hora, se Deus quiser, vira nada. Mas não vira nada nunca. Eu quase consegui te amar exatamente como você era, quase. E é justamente por eu nunca ter sido inteira pra você que meu fim de amor também não consegue ser inteiro. Eu quase não te amo mais, eu quase não te odeio, eu quase não odeio aquela foto com aquelas garotas, eu quase não morro com a sua presença, eu quase não escrevo esse texto. O problema é que todo o resto de mim que sobra, tirando o que quase sou, não sei quem é.


Tati Bernardi

domingo, 14 de agosto de 2011

Deus

Então, Deus, o que é isso que está acontecendo? Eu sou algum experimento a longo prazo? Eu valho alguma coisa mais do que isso ou sou um fantoche brincando de se esconder? Eu sei que o difícil pra mim é besteira para meio mundo de gente que possui realmente problemas. Mas cada um tem a sua força para lidar com tudo, ou cada um tem uma vida de acordo com o que pode suportar. Só que está extrapolando os meus limites, está indo muito mais além do que eu sequer imaginei que poderia acontecer. Meu braço daqui a pouco vai estar dilacerado com tantas tesouradas, e a dor interna e externa vai estar crescendo cada vez mais, é isso que o Senhor quer de mim? Ou quer que eu siga adiante contra os meus princípios e índole? Quer que eu invente, dissimule, minta, finja? Eu não consigo. Eu não posso sentir o que eu não sinto e muito menos demonstrar isso. Então pra quê viver, querido Deus? Pra quê? Tem algum motivo aqui, nesse trilho mal-feito onde o trem nem sequer passa ou passa demais que está despedaçando tudo? Tento manter o pensamento positivo, eu tento, mas ultimamente anda tão difícil, sabe. O destino, acaso ou o Senhor me tirou as coisas e pessoas que faziam essa chama continuar acesa. Então, meu Deus? O que é que Você tem pra mim aí? O Paraíso está melhor do que a Terra? Eu devo continuar tentando lutar ou será que já devo ir ao Teu encontro? Me dá um sinal, joga algo aí de cima e diz: "aguenta que tu é forte". Não sou forte, não, já deveria era estar muito bem acostumada. E só pra provar a afirmação errada, eu não estou acostumada, consequentemente eu não estou/sou forte o suficiente para o que Você quer me mostrar. Tá difícil, meu Deus, tá difícil.

Trechos do livro Quem me dera ser feliz, parte II


“Não precisava de alguém que o fizesse se sentir pior do que estava se sentindo.
É, era nessas horas que precisava ser super.
Supermulher.
Supermãe.
Supercompanheira.
Superpaciente.
Super-resignada.
Superprotetora.
Superindulgente.
Supertudo.
O difícil era encontrar alguém que fosse super para ela.”

“É duro ser super-qualquer-coisa! Solidão...”

“A decepção foi maior do que a raiva. A falta de sorte – superstição ou não, recusava-se a sequer mencionar a palavra ‘azar’ – parecia ter voltado. Repetia-se. Já era a terceira vez.”

“Dor é o sabor de um encanto desfeito.”

“Quem é que não acredita e se decepciona pelo menos uma vez na vida?”

“Não me importa o que os outros estão fazendo ou deixando de fazer. Importa o que eu estiver fazendo. A gente não pode deixar de acreditar nas pessoas.”

“Ficava pelos cantos, amuado, presa fácil de uma melancolia estranha e frustrante.”

“Aquela seria uma batalha realmente solitária, a maior de tantas que enfrentara ultimamente.”

“Volta e meia, surpreendia-se inseguro na frente dele, pensando em dizer certas coisas e dizendo outras inteiramente diferentes. Medo.”

“... deve ser muito difícil errar diante de tantas pessoas que vivem achando que você é invencível, que nunca erra, que não te dão o direito de errar.”

Um pedido de ajuda, a necessidade quase infantil de um pouco de carinho, uma vontade doida de novamente encontrar uma maneira de se entender com alguém que amava demais.

“Lágrimas nos olhos, alívio no coração.”

“Precisava acusar, culpar, condenar alguém pelo que estava acontecendo. Precisava tirar parte daquele peso e daquela culpa de seus ombros para não enlouquecer.”

“Não procurava nada em especial. Nem o sol que despontava no horizonte de concreto da cidade sonolenta. Sentou-se como quem não tem pressa para mais nada na vida, como alguém para quem a vida não vale um instante de preocupação.”

“Apenas andar. Não pensar. Apenas andar. Não discutir. Não falar. Apenas andar. Não lembrar. Apenas andar. Andar e esquecer...”

“... chega uma hora que a gente cansa de só apanhar da vida, a gente pensa em desistir.”

“É a realidade. E é embaraçoso, envergonha, chateia, deixa todo mundo com os nervos à flor da pele, cansa... Eu sei de tudo isso. E daí? A gente vai correr? Buscar um buraco bem grande e enfiar a cabeça lá dentro?”

“O maior problema não é morrer. O meu maior problema é viver. Eu só quero isso.”

Trechos do livro Quem me dera ser feliz, parte I

“Parecia um filme muito antigo e muitas vezes visto, que se repete e se repete diante dos olhos. Monótono. Aborrecido. Desanimador. Um filme triste.”

“Outra triste constatação. Viver num lugar onde as ruínas se tornam ruínas mesmo inacabadas, e com cara de coisa nova, era algo estranho. Não, estranho não. Perturbador.
                ‘Parece que estamos sempre recomeçando...’”

“Era o que todos à sua volta estavam fazendo, lobos esfomeados perseguindo um único pedaço de sobrevivência – que quase sempre acabava rimando com insatisfação e subserviência.”

“Muitas vezes, na falta de coisa melhor para fazer, em que pensar, queria apenas correr, correr para bem longe.”

“Sentiu fome. Sentiu sede. Mas, antes de qualquer outra coisa, um aperto insuportável no coração. É a expectativa que tira a confiança. É a ansiedade que destrói a razão.”

“Pensou em muitas coisas. Contrariedade. Aborrecimento. Chateação. Mau humor. Desistiu no instante seguinte. Perda de tempo... acabaria inevitavelmente se repetindo, dizendo coisas que certamente já deveria ter dito.”

“Nunca pensou que experimentaria tão intensamente sensação tão opressiva e desagradável.”

“Acabava sempre revoltando-se. Era melhor do que simplesmente desistir ou enlouquecer. Na verdade, desistir era enlouquecer.”

“... palavras roçando seus lábios, mas perdendo-se num medo crescente, amordaçadas, despedaçadas, perdidas, terminando por jamais serem ditas. Seria perda de tempo. Mais do que isso, acabariam sendo mais uma vez desculpas, explicações, argumentações, alegações infundadas, esperanças sem valor,  palavras em que ele mesmo não acreditava.”

“Passava horas procurando algum pretexto para extravasar, para discutir com ela e pôr tudo aquilo que sentia,  aquele rancor crescente mas absurdo, para fora.”

“Sempre que retornava, encontrava-se pior do que quando saíra, esperanças redobradas na ida, esperanças destruídas na volta."

“A vergonha machuca. A impotência revolta. A incerteza dói e destrói sem piedade.”

“É duro ser super-qualquer-coisa. Você não pode sentir dor mesmo quando tem as dores do mundo sobre os ombros. Não tem direito ao próprio sorriso, pois a alegria dos outros, os sorrisos dos outros, sempre são mais importantes. Não lhe resta tempo para chorar, pois o choro de tantos se seguirá ao seu. Você não tem vida própria, mas dá-se em tempo integral para que a vida não desapareça daqueles mundos e daqueles rostos que gravitam em torno de você. Você, que tantas vezes é luz, vive nas sombras de uma insatisfação interminável. Morre aos poucos, querendo viver.”

“Compreendia – ninguém cai tantas vezes sem começar a pensar que é incapaz de andar... -, mas não aceitava. Sentia-se traída.”

“Enfrentando desaforos de meio mundo, e ele pensava em fugir, largar tudo, desistir...”