sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Agora não posso mais

Sinto-me diferente do que sempre fui. Mas não sei o que mudou, ainda não consigo compreender. Meu emocional está tão destruído que algumas dessas mudanças estão recorrendo a destruição do meu físico. Então, me pergunto, por que agora tenho o que tanto me faltou? Por que, exatamente desse jeito que me encontro, aparecem pessoas que se importam realmente comigo e não com o estereótipo? Onde está a diferença? Foi eu que mudei, ou foram as situações e pessoas que me veem de uma outra forma? Talvez tenha mudado, sei que estou mais segura em relação a minha dor, mais fria, e me mantendo distante de aproximações, mas continuo não conseguindo disfarçar essas cicatrizes, meu rosto continua mostrando demais... então, por quê? Por que alguém se interessaria pelo meu desespero? Há algum mistério nisso? Será o mistério? O querer desvendar o que se passa nesse corpo fragilizado mas confiante, descobrir a origem das estampas tristes e loucas? Por que agora? Exatamente agora, quando eu não quero mais me permitir amar?

Desistindo...

Oi, eu ainda te amo, prova disso é a minha dor. Meu sofrimento é pura honra, o mais digno daquilo que ainda sinto, é a maior prova de que absolutamente tudo foi real, tudo o que fiz e disse, todos os arrependimentos e erros. Já você, não sei, não te sinto mais, nem reconheço, muito menos conheço. Desculpe, eu não te amo, a pessoa pela qual eu perdidamente me apaixonei e hoje ainda amo deixou de existir, e se ainda existe, está escondida em algum lugar que eu não consigo encontrar. Estou desistindo da melhor forma possível, desisto de enlouquecer. Você não vale a pena, este você que eu nem sei quem é.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Vem, me empurra

O problema é eu deixar que me ajudem. Poder te tirar esse peso todo já me alivia, receber suas mensagens inesperadamente já me abre sorrisos, sentir seu abraço de urso no meio do caos me faz lembrar que eu posso ser feliz, que talvez eu mereça algo melhor do que todas as merdas que a vida vem me dando. Talvez ainda não lhe tenha dito que eu nunca dispus de algo/alguém assim, que estivesse por mim quando tudo parecesse perdido, um ombro pra encharcar, uma mão me puxando de volta, um olhar de carinho, uma súplica para me manter perto. Não tive ninguém para me empurrar pra frente quando o único caminho que me restava era descer mais e mais, voltar pra atrás. Ter você pra me tirar essa dor de vez em quando, ou pra me lembrar do quanto eu sou forte e do quanto não vale a pena endurecer por isso e por tantas outras coisas. A ajuda que você me fornece não se equipara ao pouco que eu estou conseguindo lhe dar. Não ter ninguém nunca, e de repente ter alguém assim, para todos os casos e acasos, é diferente, é estranho, e eu não sei lidar com isso. Ao mesmo tempo que me surpreende, me assusta... Me faz recuar, por medo. Medo de ser abandonada mais uma vez. De ser esquecida num cantinho qualquer a espera de alguma coisa nova. Estou na expectativa de conseguir seguir em frente, e você vem me empurrando. Não peço mais do que já vens me dando.

Vamos embora

A dor é estranha. Um gato matando um passarinho, um acidente de carro, um incêndio... A dor chega, BANG, e aí está ela, instalada em você. É real. Aos olhos dos outros, parece que você está de bobeira. Um idiota, de repente. Não há cura pra dor, a menos que você conheça alguém capaz de entender seus sentimentos e saiba como ajudar. E eu quero que você no fundo, lembre que eu estou disposto a isso. Eu vi pelo o que você passou, eu não presenciei tanto, mas deu para ver o seu choro silencioso, tudo que mais te doeu. Eu acho que você foi um dos motivos deu ter vindo embora mais cedo, por mim, eu teria ficado. Mas eu pensei em você e vim. Sei lá, acordar na Bahia logo cedo num ambiente totalmente tranquilo com as mensagens de 'bom dia' e outras coisas mais, valeu mais do que a pena ter feito tudo aquilo para viajar pra lá. Talvez esteja falando besteira demais, talvez não. Mas eu cansei de te ver triste e de te ver magoada. E se você tá me ajudando, eu quero te levar disso tudo.

Emanuel Alves

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Distância resulta desconhecer

Esses dias tenho feito questão de lembrar, de entender o motivo de toda a distância e todo o motivo de querer continuar mantendo-a. Não me culpo mais, não me vejo a causadora da falta, fiz o possível, mas deixei de tentar o impossível, talvez pela falta de reciprocidade. Não vou mentir, te culpo em partes, mas não te julgo por isso, só estou desistindo. Tenho sentido tanto que não tive escolha, desculpe se isso acaba se tornando um incômodo, mas não nos conhecemos mais e eu sinto falta de ter me conhecido. Tenho sentido falta de tudo, essa tal da tristeza está me atacando em todas as partes, pegando o passado e fazendo-o presente, tornando a dor da perda mais insuportável. Onde foi que eu errei? Você deve saber que me sinto insegura, inferior e desimportante pra ti, e talvez isso não faça muita diferença. Estou dramatizando? Pode ser, mas perder nunca foi fácil. E perder alguém que julgava pra vida inteira é uma tarefa muito mais árdua que qualquer outra, que intensifica todas as outras dores. Sinto muito.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Essencial

Se tornastes mais do que um amigo, equivalente ao essencial para que os dias passem sem muito desespero. Quando olho para o lado a procura de alguma coisa além de eu mesma, é você que encontro, em qualquer situação, qualquer desafio. Mesmo estando tão longe, continua se fazendo presente, sempre. E essa distância vem intensificando aquela coisa que a gente chama de "saudade", esse sentimento que ora angustia, ora te abre sorrisos. Intensifica a dor no peito e a sensação de perda, cria intimidades antes esquecidas. E normalmente, quando o mundo parece querer desabar sobre nossas cabeças, é em nossas mensagens de apelo que nos reencontramos, que nos reerguemos sob muito esforço para estarmos presentes um para o outro, e deixo que palavras suaves saiam da minha boca sem esperar retorno, porque estamos necessitando de qualquer coisa real e sincera, e é isso que nós estamos conseguindo ser: alívio, sorriso, sinceridade, dor, desapego. E quando falta a sanidade, é nas tuas palavras de conforto que consigo encontrar o caminho, a trilha que volta para o lugar calmo dos meus olhos tristes e sorriso fraco. É você que me tira do desvio amedrontador da solidão que me puxa para baixo, me mostrando a luz forte do sol que entra pela janela.  É você que vem me salvando quando penso que desistir de tudo é realmente a salvação.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Trechos de Cecília Meireles

"Levai-me aonde quiserdes! - aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira."

"E o sorriso de uma alegria que eu não tive, mas te dava."

"Tudo em ti era uma ausência que se demorava: uma despedida pronta a cumprir-se. Sentindo-o, cobria minhas lágrimas com um riso doido. Agora, tenho medo que não visses o que havia por detrás dele. Aqui está meu rosto verdadeiro, (...) dize-me qual de nós morreu mais."

"Não sofras, por não te poderes levantar do abismo em que te reclinas: não sofras, também, se um pouco de choro se debruça nos meus olhos, procurando-te. (...) Foi lição tua chorar pouco, para sofrer mais."

"Não sofras por teres vindo. Alguém nos mandou de longe para ver como ficava um rosto humano banhado de desilusão. (...) Iremos a outros lugares, onde talvez haja tempo, misericórdia, viventes, amor, ocasião."

"O tempo seca a beleza, seca o amor, seca as palavras. (...) O tempo seca a saudade, seca as lembranças e as lágrimas. Deixa algum retrato, apenas, vagando seco e vazio. (...) O tempo seca o desejo e suas velhas batalhas. (...) Esperarei pelo tempo com suas conquistas áridas. Esperarei que te seque."

"Meus olhos, ricos de amor, sofriam de indiferença."

"Liberdade - essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explicar, e ninguém que não entenda!"

"De longe te hei de amar, - da tranquila distância em que o amor é saudade e o desejo, constância. (...) De um salto firme e tremendo, - tão de além! - chega-se onde estou vivendo sem ninguém. Gostava de estar contigo: mas fugi. Hoje, o que sonho, consigo, já sem ti. Verei, como quem sempre ama, que te vais. Não se volta, não se chama nunca mais. (...) Se perguntam como vivo? - De adeus."

Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida
a minha face?

Cecília Meireles

Coração de Pedra

Oh, quanto me pesa
este coração, que é de pedra!
Este coração que era de asas
de música e tempo de lágrimas.

Mas agora é sílex e quebra
qualquer dura ponta de seta.

Oh, como não me alegra
ter este coração de pedra!

Dizer por que assim me fizestes,
vós todos a quem amaria,
mas não amarei, pois sois estes
que assim me deixastes, amarga,
sem asas, sem música e lágrimas,

assombrada, triste e severa
e com meu coração de pedra!

Oh, quanto me pesa
ver meu próprio amor que se quebra!
O amor que era mais forte e voava
mais que qualquer seta!

Cecília Meireles

Sugestão

Sede assim - qualquer coisa
serena, isenta, fiel.

Flor que se cumpre,
sem pergunta.

Onda que se esforça,
por exercício desinteressado.

Lua que envolve igualmente
os noivos abraçados
e os soldados já frios.

Também como este ar da noite:
sussurrante de silêncios,
cheio de nascimentos e pétalas.

Igual à perda detida,
sustentando seu demorado destino.
E à nuvem, leve e bela,
vivendo de nunca chegar a ser.

À cigarra, queimando-se em música,
ao camelo que mastiga sua longa solidão,
ao pássaro que procura o fim do mundo,
ao boi que vai com inocência para a morte.

Sede assim - qualquer coisa
serena, isenta, fiel.

Não como o resto dos homens.

Cecília Meireles

Trecho do poema Monólogo

Para onde vão minhas palavras,
se já não me escutas?
Para onde iriam, quando me escutavas?
E quando me escutastes? - Nunca.

Perdido, perdido. Ai, tudo foi perdido!
Eu e tu perdemos tudo.
Suplicávamos o infinito.
Só nos deram o mundo.

Cecília Meireles

Explicação

O pensamento é triste; o amor, insuficiente;
e eu quero sempre mais do que vem nos milagres.
Deixo que a terra me sustente:
guardo o resto para mais tarde.

Deus não fala comigo - e eu sei que me conhece.
A antigos ventos dei as lágrimas que tinha.
A estrela sobre, a estrela desce...
- espero a minha própria vinda.

(Navego pela memória
sem margens.

Alguém conta a minha história
e alguém mata os personagens.)

Cecília Meireles

domingo, 4 de setembro de 2011

"Moço, maltratar não é direito, esse mágoa no meu peito você sabe de onde vem. Isso é desamor e não tem jeito, um amor quando desfeito sempre faz alguém chorar, eu chorei. Saudade tá doendo e lá vem você querendo outra vez me maltratar. Um amor só é bom quando é pra dois, eterno é antes e depois. Agora não vou mais me enganar, não quero mais sofrer, não dá. Se o teu desejo era me ver, se deu vontade de saber se estou feliz, até posso dizer que sim, o teu reinado acabou, chegou ao fim, eu não nasci pra você, nem você pra mim."

Maltratar, não é direito - intérprete Maria Rita

Trechos do livro As solas do sol

"Deixaram-me sonhar-te, não ser teu dono."
Jorge Luis Borges

"Tua companhia é o endereço da fúria. (...) Aspiravas possuir o que não tinha e ser a alegria da dor que mansamente escapava."

"Entreguei o olhar à estranha e na sua estranheza mobiliei teu corpo."

"Um rosto conhecido usou o desconhecido do teu rosto."

"Manhã tão forte que me anoiteceu."
Mário de Sá-Carneiro

"O tempo não estava na matéria. O saber concebido para não ser compreendido. Após a pressa, o escorrer do pranto. (...)
- Estou surdo de tanto vê-lo"

"O desejo apartado, recolhido em outro fuso horário."

"A ausência de Deus me protege."
Hördelin

Carpinejar

sábado, 3 de setembro de 2011

Calma...!

Tenha calma, nem tudo é do jeito que se espera, e se esperar, será decepção. Mantenha a calma, o amor tem dessas coisas mesmo, vai e volta, não sabe se fica, e tem dois lados opostos demais que te confundem, mas mantenha a calma, ele continua sendo lindo de todo jeito. Não chore em público, não dê esse gostinho a maldade alheia, não deixe que as lágrimas manchem esse rosto bonito. Psiu, ei, você mesmo, se quiser chorar, pode, mas sozinha ou com alguém que te ofereça um ombro e silêncio, chore, deixe sair essa coisa horrível de dentro de você e se for pra chorar mesmo, lembre-se de depois erguer o rosto e prosseguir. Aceite o fim, eles sempre virão, independente do que o futuro te reserva, saiba: os fins sempre virão, eles estão em todos os lugares. Ei criança, eu tenho uma dor, eu sei o que é sofrer, mas não deixe que isso te derrube, não deixe que a vida te tire a esperança de recomeçar. Acabou? Recomece, agora recomece melhor, superior, não diminua, amadureça. Os fins servem pra isso se você souber ver o lado bom da coisa. Calma, eu estou aqui, compartilharei da sua dor se permitir, guardarei a minha na caixinha de decepções e te levarei a um lugar calmo onde você possa encharcar a minha blusa, eu não me importo. Ei, não desista de mim, eu ainda tenho jeito...